A figura do pai tem significado muito forte desde a mais remota das civilizações e religiões. Todo pai reveste-se de importância e referenciais; o meu pai foi é um referencial para mim; deixou a imagem e o exemplo de disciplinador diante de circunstâncias e sempre com o contraponto da doçura de minha mãe. Mas havia entre eles um pacto tácito de respeito entre as atitudes e mútuas decisões – que sábia hierarquia! O frágil "rigor" de papai era adoçado na minha infância pelas cavalgadas que com ele fazia em suas idas até o Morro-Redondo, de sua propriedade, para nos períodos invernosos ver a evolução dos roçados e o pastoreio das vacas e caprinos nos campos de pasto.
Guardo na memória as informações transmitidas por ele durante o tropel do cavalo no percurso entre a Palma e a fazenda; falava sobre as serpentes, raposas, guaxinins, onças e outros animais. Diante de minha curiosidade infantil descrevia seus modos de vida e defesa. As aves, estas eram comentadas com severa recomendação a ser cumprida: de nunca atirar nas aves através de baladeiras, instrumento proibido, cuja determinação haveria de ser cumprida. Na nossa casa não tinha baladeiras. Não lembro de ter "assassinado" um pássaro.
O descortino das coisas do mundo descritas por ele ia desde as normas comportamentais, os estudos e os horários. Menino ainda de 12 anos, vim com ele pela primeira vez a Fortaleza, a cidade grande, no ônibus da Expresso de Luxo, um Fargo que partia de Sobral, alguns vindos de Teresina, para uma consulta médica. Nos hospedamos na Pensão Napoleão, na Rua Senador Pompeu. Chegamos numa noite e no dia seguinte, após o café matinal, fomos à consulta com o doutor. Após a consulta, papai, no intuito de agradar-me, perguntou: – Galba o que preferes, subir num arranha-céus ou ver o mar? De pronto respondi que queria ver o mar. Aí aconteceu um dos momentos que nunca consegui esquecer: fomos até a Praça do Passeio Público; era uma tarde verão, creio que outubro ou novembro, o azul infindo do mar deixou-me extasiado e emocionado. Ao lado, relembro a felicidade de papai a descrever, diante de minha admiração, que o mar terminava em outras terras muito distantes.
Esta remota imagem é inesquecível, assim como a satisfação dele de ter proporcionado esta encantadora emoção. Assim são os papais, diferentes, unos, justos, solidários e o forte protetor dos filhos.
Feliz dia do papai a todos que já se foram e aos que ainda estão presentes, simples ou sofisticados...
Galba Gomes
Membro da APL
P.S.: A foto, de forma deliberada, mostra outros tempos em que as pessoas ofertavam aos amigos com dedicatória. Meu Pai era Deusdedit Gomes Fontenele.