Meu avô era fazendeiro, tinha uma família numerosa, sendo duas moças e quatro rapazes, a fazenda dele ficava distante da cidade onde ele sempre ia vender os legumes ou animais, como também comprar outros produtos que só tinham na cidade. A negociação de compra e venda era feita na feira do município, que era realizada nos dias de sábado pela manhã. Meus tios passavam a semana na labuta, mas nos finais de semana iam pros forrós. Meu avô sempre programava sua ida à feira numa noite de luar porque os caminhos ficavam mais claros, pois eram veredas estreitas entre os garranchos da caatinga.
Numa dessas idas à feira, meu avô marcou a viagem na mesma data de uma festa que iria acontecer lá pela vizinhança da fazenda e que meus tios iriam com certeza.
Noite cedo, eles seguiram para o tal forró, mas meu avô resolveu sair na madrugada, que era para amanhecer o dia já lá na feira. Montou seu cavalo e viajou aproveitando ainda o clarão da lua, seguiu pelo caminho de terra que atravessava o leito seco de um rio, ao lado do qual havia várias oiticicas de copa grande, que deixavam o local bem escuro. Corria um boato que nesse local sempre aparecia uma visagem, mas meu
avô era corajoso e tocou a caminhada em frente. Na festa, um dos meus tios não estava se sentindo bem da barriga e resolveu voltar mais cedo pra casa. Quando chegou no local da assombração, teve que atender uma necessidade fisiológica e foi pra debaixo da oiticica. Como naquele tempo toda vez que um filho ficava na presença do pai tinha que tomar a benção, aconteceu que meu avô apareceu no caminho justo nesse momento, tendo meu tio o avistado, mas ele não; então, lá do meio da escuridão, meu tio disse: – "Bença", pai?! Nessa hora, segundo me contaram, até o cavalo tomou um susto e jogou meu avô no chão, que, ao se levantar, disse: – Isso é hora de tomar bênção? Tu mereces é levar umas chibatadas! Quase que me matou de susto, seu filho de uma...
Memórias de Dr.ª Maria Selva
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