quinta-feira, 5 de março de 2015

GUERREIROS(AS) DO SERTÃO


Ao cantar do galo, como de costume, seu José acorda. Após amolar a foice e organizar os instrumentos de trabalho ele deita em seu "tucum", armado no alpendre da casa. Na ocasião, observa o nascer do sol e, ao mesmo tempo, analisa como será o clima do dia. A maioria das vezes, de forma incrível, ele acerta; outras, entretanto, não! 

Dona Rita, mulher de seu José, sabe que quando o marido deita-se no tucum é porque o mesmo está à espera de seu delicioso e tão almejado café. Por isso, acorda-se ao mesmo tempo do varão, faz o fogo à lenha e produz a bebida. Quando as condições estão favoráveis o café é tomado junto com pão, tapioca ou beiju, mas quando não estão o jeito é bebê-lo escoteiro.

Com cinco filhos para criar, seu José sabe que a ‘mordomia’ é curta e que logo terá que se dirigir à roça, juntamente com seus três filhos, os quais, apesar de serem menores, compreendem a importância de ajudar o pai na manutenção da casa. As filhas, todavia, ficam na companhia da mãe e a ajudam na organização do lar. Ambos os pais entendem que a educação é primordial e que somente ela poderá dar um futuro diferente aos filhos. Por isso, respeitam o tempo que eles necessitam à escola. Assim, os filhos se eximem da responsabilidade no momento de estudo, mas tendo que contribuir em outra ocasião. 

Seu José, com a foice e uma "cabaça" d’água no ombro, se encaminha ao serviço. Trabalha, em meio ao sol impiedoso, de sete às onze horas da manhã e de uma às cinco horas da tarde. Assim, é sua labuta diária. 

Nota do autor: Essa história fictícia, mas que trata de uma realidade comum do sertão nordestino tem por objetivo apresentar um pouco da vida dos agricultores de nossa região, os quais enfrentam diariamente as intempéries da natureza para colocarem comida sobre a mesa. O processo da lavoura (roçar, queimar, plantar, capinar, cuidar e coletar) exige muito dos trabalhadores rurais, que carregam em sua pele as marcas do sofrimento. Como se não fosse suficiente, ainda são obrigados a direcionar seus filhos à lavoura, tendo por fim a diminuição e avanço do serviço laboral. Não é por que querem, mas sim por que a necessidade os impõe, afinal nenhum pai responsável deseja infortúnio ao seu próprio filho. 

Hélio Costa
Membro da APL

Nenhum comentário:

Postar um comentário