terça-feira, 26 de março de 2013

Chanceller 100




De cócoras no meio da sala, Baía mal olhava para a televisão, curubijando a mistura do meu prato raso de arroz e feijão. Naqueles tempos de dificuldade, o bife de carne pareceu-lhe uma iguaria tentadora. No meu fastio crônico de menino desnutrido, eu apenas remexia desinteressado o prato com a colher, sem desgrudar os olhos do desenho animado.

Baía acabara de mostrar-me, antes do almoço, a nova aquisição da sua invejável coleção de carteiras de cigarro. Era uma Chanceller 100, dobrada com esmero em forma de dinheiro, miúda e rara, estampada com faixas azuis em diferentes tons, ocupando um canto destacado da sua maleta de madeira. Fiquei boquiaberto.

As carteiras de algum valor da minha pobre coleção não passavam de três: uma Mustang, uma Arizona e uma Minister. As demais eram carteiras muito comuns nas ruas da cidade. Talvez toda a minha coleção não chegasse ao valor da Chanceller. Baía era menino sereno, precoce para a idade, organizado. Não nos acompanhava nas andanças atrás de carteira pelas ruas. Tinha fornecedores, alguns donos de bar, alguns fumantes endinheirados, alguns caminhoneiros de passagem pela cidade.

Estranhei o interesse dele pelo bife. Imaginava que na casa dele passava-se melhor. Ofereci um pedaço. Ele balançou desconfiado a cabeça afirmativamente. Perguntei se ele queria negociar o bife todo. Ele voltou os olhos para a televisão, com alguma indiferença. Disse que trocaria o bife pela Chanceller 100 dele. Baía, com os olhos ainda na televisão, fez um rápido sinal de positivo com o polegar e se retirou.
Arrependi-me da proposta ofensiva. Devia ter ferido os brios do amigo. Interpretei o sinal positivo do polegar como uma ironia. Estava certo de que ele não negociaria a sua valiosa Chanceller 100, recém-adquirida, por nada no mundo.

Antes que eu parasse de pensar no episódio e começasse a almoçar a comida já fria, porém, eis que me ressurge o Baía, com a Chanceller 100 em mãos, entregando-a a mim. Não me contive. Passei-lhe o bife com as mãos trêmulas e corri para o quarto para apreciar incrédulo a raridade que acabara de adquirir.

Pouco depois, vendo o prato de arroz e feijão no meio da sala, D. Leda me chamou:

– Bora menino, comer o resto! Ó menino réi doido por carne!

Eliton Meneses
Membro da APL

terça-feira, 12 de março de 2013

O brado nesta senda

Eu tenho uma suspeita imprecisa, e já não é feita de agora, que a continuidade do tempo se dá indefinidamente, irrestrita, segue e sempre se arvora mesmo pra longe daquilo que queira eu, na minha ignomínia, ter. Afinal, não sendo senhor de nada, vivo preso nesta curta estrada, até onde tiver pé pra caminhar,... e quando eu não mais puder andar, não sei qual será minha senda, mas sei que há algo que quer que aprenda a viver e fazer viver mais. Não será tudo perdido! Se tu crês (ou não), verás!

Já me intrometi na vã filosofia, montei todo esquema de axiologia, religião, misticismo e tantos mais... Perdi-me em meio a tanto discurso; já no começo do percurso, senti a dor da angústia voraz. Se te contar que já tenho até gastrite do encarar o vazio do nada, espero que não se irrite com essa verborragia sem fim! Ora, neste véu obscuro que nos separa, não sei se a verdade está em tu ou, de fato, em mim. Contudo - a dor, o arrependimento, ou mesmo a ausência de sentido – não quero viver deprimido, e repito uma vez mais em brado forte e envolvente: deixar de sonhar jamais!

Benedito Rodrigues

O Araquém dos meus tempos...

Nas décadas de 60 e 70 vi muita coisa e minha memória guarda muitas delas. Algumas ligadas a doloroso sofrimento. Outras nem tanto! Como meu pai era um misto de agricultor, pecuarista, comerciante, amansador de burro, proprietário de terras e comboieiro, enquanto ele quebrava cabeça com tanta coisa, eu ia aprendendo, à moda Camões... Por conta disso, ficaram marcadas na minha cabeça a imagem dos homens sentados embaixo de árvores ou em algum oitão de casa, deixando o sol quebrar, comendo e dando milho aos burros e jumentos. Depois do de comer, homens e animais bebiam água feito arco-íris. Os primeiros, nas casas ou em seu cantis, os jegues e burros, no açude. Entre esses tocadores de animais existia também os do Araquém. Alguns vendiam roscas feitas de goma de mandioca. Levavam-nas pro Arapá, pra Frecheirinha, pro Mucambo,... Eu ficava bestificado em saber que aquelas iguarias não se espatifavam no chão, virando comida pros balecos!

Os foiceiros, derrubadores de palha de carnaúba, também me encantavam. Destemidos, durões e contadores de lorota. Os vaqueiros também eram figuras marcantes. Sempre contando histórias. Nunca perdendo pros touros. Sempre achando-se melhor do que os outros. Sempre contando vantagem. Mais os enxadeiros eram quem mais me chamavam a atenção! Principalmente aqueles que me ajudavam nas funções do meu pai, me permitindo um "feriado". Um deles comia feito bicho. Ou, como ele mesmo dizia, "como um condenado!". O feriado, você sabe, é aquela clareira que aparece no meio do mato a ser derrubado, nos permitindo uma folguinha nos cortes... Milhã a menos, jitirana que não nos perturbavam as pernas! São lembranças dos tempos em que a gente vestia calça curta, mas tinha o sofrimento longo! Minorado um pouco pelo leite mungido na porteira do curral e pela pratada de coalhada no início da noite. Mas, como diria Fernando Pessoa, o bardo português, "tudo vale à pena, se a alma não é pequena!"

 João Teles de Aguiar - Professor e membro da APL

domingo, 10 de março de 2013

Diabo e religião: tudo a ver

- Uma camisa-de-força para este herege!!! Não... não! Uma camisa-de-força não! Melhor seria uma fogueira para queimarmos este pecador intransigente... Como pode? Um filho duma égu...   - Calma, calma, amado, estimado, idolatrado e tantos outros... ados leitor destas mal traçadas linhas... Posso até ser um herege, um pecador intransigente, mas não coloque minha santa mãezinha no meio desta bagaceira, não... Ela não tem culpa d'eu ser assim... Ademais...  - Ademais uma ova!!! Profanador... desencaminhador de inocentes almas... Pelo título de sua crônica vou parar de ler por aqui... Vai que eu fique cego... E recomendo aos demais leitores que também não cometam esta heresia de tomar conhecimento de sua opinião pecaminosa... Pessoas de "fé", como nós, não podemos nos desencaminhar...   - Mas leia, amado leitor...  - Leio não...  - Leia...  - Leio não...  - Leia pelo menos um pouquinho...  - Tá bom... Já que insiste vou ler... mas por precaução, vou ler com um olho apenas... vai que Deus resolve me castigar...  - Isso, amado leitor... Feche um olhinho e ponha a ler o que vou escrever... Talvez até conclua no finalzinho que tenho razão...  - Aí já é pedir demais, profanador...  - Então? Posso começar?  - Pode! Mas veja lá...  - Como dizia o título desta nada modesta crônica de final de ano,  "Diabo e Religião: Tudo a 'Diabo e religião: Tudo a Ver'", reflitamos um pouquinho...:

"Jesus, o filho de Deus, que veio ao mundo e nos ensinou que o único caminho para o Pai era sermos virtuosos, bondosos para com os nossos semelhantes, não criou nenhuma religião, nem pediu que passassemos uma vida a combater o demônio, o diabo, ou seja, lá que outro mandatário do mal seja... Disse apenas isso: "Amai vos uns aos outros como a si mesmos". E pronto. Eis aí a simples receita para conquistarmos o céu. Simples, não?

Mesmo diante desta simplicidade toda, o homem "besta e ingênuo" que só, em cima da ignorância e bestialidade de homens mais bestas ainda, botaram na cabeça destes que só chegariam ao céu combatendo o diabo... Aí nasceu as religiões. O negócio mais própero que criaram desde que o escambo de bens foi substituído pelo vil metal: "O dinheiro..."  E esta mesma incauta manada que sonha com o ócio no paraíso, que carrega debaixo do braço ou mantém esquecida na estante da sala de estar, o segredo passado de boca a boca e de ouvido a ouvido, ou seja, a palavra "Amai-vos uns aos outros como a si mesmos"  injetam seu suado dinheirim nesta hipócrita guerra conta o diabo, patrocinada pelas religiões... Não faça isso, minha gente!!! Estão combatendo o sócio majoritário das suas agremiações religiosas... Isso mesmo... Isso mesmo... Vamos pensar  um pouco? - Pensando... pensando... pensando... - Cale-se... cale-se... cale-se.... Você me deixa louco... - Você não vai com a minha cara? Pensou? - Pensei... - A que conclusão chegastes amado leitor? - Que devo pagar o meu dízimo amanhã cedinho, para ir para o céu... - Pois eu cheguei a conclusão diferente... - É mesmo? E qual foi? - Na realidade chegue a várias conclusões, mas que resultam em uma única. Concluí que :1 - E se o diabo não existisse? 2 - E se, de repente, o diabo se convertesse a Jesus,  já que, segundo dizem, o diabo também  faz parte da criação Divina e por isso mesmo pode voltar a ser do bem? 3 - E se o diabo de tanto apanhar nos cultos e celebrações religiosas, resolvesse dizer: - Chega! Me rendo! Também sou filho de Deus! Não aguento mais apanhar destes fanáticos... 4 - O que seria da sua agremiação religiosa? Como iria viver o seu guru religioso?

- E aí, amado leitor destas mal traçadas linhas... Me responda estas pequenas indagações... - Respondo não... - Por que não? - Por que o chefe de minha igreja falou que eu não deveria dar atenção a hereges... Afinal nem sei por que ainda estou lendo essas sandices... Ah, meu Deus do céu... Acho que vou me penitenciar... - É, meu caro leitor... Não é fácil quebrar paradigmas... Ainda mais quando estes tem fundações seculares... Mas para chegar ao final e, se alguém  raciocinou com pelo menos dois neurônios, também deverá ter chegado à conclusão que, queiram ou não queiram: "Diabo e Religião são sócios meieiros num lucrativo e rentável negócio". Um não viveria um só minuto sem a existência do outro e vice versa...

- Tenho dito... E sempre!!!

Manuel de Jesus

Reminiscências da Palma

Meados dos anos cinquenta. Acontecia a inexorável transição de minha infância para a puberdade. Os primeiros sonhos agitavam-me a mente. Lembro-me bem mundo de então, da minha Palma querida...
Minha casa era de cor azul, situada numa singela pracinha, ainda sem calçamento, onde os jovens de minha época corriam de bicicleta alugada ou circulavam na busca dos primeiros namoros com os brotos, que usavam saias abaixo do joelho e sob elas as anáguas endurecidas pelo grude e que lhes dava um aspecto que lembrava os vestidos das dançarinas de balé.

Num dos extremos da praça, estava a igrejinha, com sua torre e seu sino melodioso, tangido pelo eterno sacristão Irineu, ao amanhecer, ao meio-dia e no entardecer. Só silenciava durante a Quaresma, quando era substituído pelo martelar seco da indefectível matraca. No outro extremo da praça ficava a casa do vovô Leopoldo, de frente à igreja. Guardo nos mínimos detalhes como eu o via sentado em sua cadeira de balanço, ao lado de sua companheira Quina, a receber a visita de suas filhas e netos. Ainda hoje me vem à mente o perfume do jasmineiro, na entrada de sua casa... No outro lado morava o vovô Batista e sua Quintina. Esse era muito ligado à sua fazenda de onde retornava nos fins de semana.

Minha casa tinha de tudo: um quintal com vacas leiteiras, porcos e galinhas caipiras de pescoço pelado. Até rádio – coisa rara na época – tínhamos um que eu escutava horas e horas quase sempre a velha PRE-9 ou Rádio Timbira do Maranhão. As rádios de Sobral só viriam depois.

A Palma é um lugar bonito. Pobre, mas bonito. Fica entre duas lindas serras azuis: a Meruoca e a Ibiapaba, sem esquecer o Serrote com seus olhos d’água perenes e seu verde exuberante no inverno.
Às vezes sentava-me no auto do mourão, na porteira do estábulo de minha casa, e entrava em profundo devaneio, a contemplar a silhueta da Serra Grande, não sei bem se a imaginar que o mundo terminava ali, por trás daquela imensa montanha. Afinal meu era aquele...

A Palma do meu tempo era uma cidade alegre. Tinha uma original bandinha que animava a Festa de Nossa Senhora da Piedade, com seus partidos Encarnado e Azul (lá em casa éramos do Encarnado) e os bailes em que imperava a divisão preconceituosa e inaceitável de “pardos” e “brancos”. E havia ainda, animados pela bandinha, as retretas no patamar da igreja. O mais original, porém, era a festiva chamada dos músicos com o toque do bumba da casa do Chico Irineu. Toda a população ouriçava com os primeiros acordes da bandinha. Gente, cá pra nós, aquela bandinha precisa renascer com toda sua originalidade.

E pau do rio? Existirá ainda aquela frutinha gostosa? De vez em quando chegava um dos afilhados de minha mãe com um prato de ágata abarrotado de pau do rio para nos presentear esperando, talvez, nos agradar e ao mesmo tempo receber em troca um prato cheio de farinha. Esse tipo de relação de troca me comove profundamente, pois configura, até na quase pobreza absoluta, a dignidade de nossa gente.
Os tempos passaram, alcancei novos valores, conheci outras terras, conquistei novas amizades. Entrementes, minha Palma, que é minha terra natal, permanecerá em mim, de forma indestrutível, a mesma de minha infância: bucólica, terna, alegre, ensolarada e, acima de tudo, terra de gente boa, digna e empreendedora.

Galba Gomes

Dona Livramento, a filha do sofrimento - por João Teles

NOSSO ROMANCE INTEIRIÇO, para os amantes da Literatura de Cordel:

DONA LIVRAMENTO, A FILHA DO SOFRIMENTO

1. Sei que os deuses do Olimpo
Vão me dar inspiração
Para narrar com tempero
E alguma devoção
Fatos manchados de dor
Doença vil e oração.

2. Livramento só viveu
Em nosso árido sertão
Cresceu em meio ao temor
De uma seca, com razão
Pois sabia que uma seca
Rima com desolação.

3.Muito nova se casou
Com Tomaz, um homem bom
Logo veio a embiricica
De meninos - foi um dom
Com muito trabalho e força
Nunca soltou o guidom!

4.E Tomaz corria o mundo
À procura de feijão
Era forte, destemido
Pra trabalhar, um leão
Os filhos sempre no apoio
Lá no sofrido sertão.

5.O tempo passou e veio
Longa era de sofrer
A filha mais velha Menta
Viu na rede esmorecer
E em três dias de dor
Sua face se desfazer!

6.Livramento, em meio a prantos
E o apoio de Tomaz
Viu a filha lutadora
Ligeira que nem um ás
Perder a vida, tão boa
Sem conhecer um rapaz!

7.A dor logo fez morada
Naquele peito cristão
Rezou muito, fez pedido
A Padre Cícero Romão
Iria, sim a Juá
Buscar a consolação!

8.Não demorou muito tempo
A tragédia se ampliou
Tomba outra filha adulta
O mistério se infiltrou
Livramento quase explode
A dor se multiplicou!

9.É difícil conviver
Com uma dor sem igual
Onde a incerteza reina
E isso não é normal
Em uma família unida
De espírito fraternal.

10.Já era a segunda filha
Que Livramento perdia
Tanto pranto, tanta dor
Livramento se partia
Por dentro do velho peito
Um mundo se remexia!

11.E não parou por aí
O seu lamento cristão
Logo, logo ela se viu
De novo, de Deus na mão
Mias uma filha querida
Desabou e foi ao chão!

12.Três duros golpes nos ombros
Aquela mulher sentiu
De repente, para ela, o mundo
O mundo se repartiu
Suas meninas de ouro
O tal mistério suprimiu!

13.Livramento olhava o céu
Sem mais nada compreender
Suas moças, logo três
Ela viu, ali, morrer
Santo Deus o permitiu
Queria vê-la sofrer?

14.Quando a tragédia golpeia
Um ser vivo, um cristão
Deixa marcas em relevo
Dá chutes no coração
É difícil suportar
É preciso fé, então!

15.A criatura de que falo
Teve mais, mais sofrimento
Um filho seu, de maior
Lhe digo sem fingimento
Um dia, por brincadeira
Caiu ali, ao relento!

16.Brincando com ferros velhos
Que estavam no monturo
Levou logo uma pontada
De algo pontiagudo
Desabou feito criança
Rendido por treco duro!

17.E abateu-se por tétano
Cruelmente atingido
O corpo veio do hospital
Houve choro não fingido
Livramento já não tinha
Lágrimas - bem entendido!

18.Quatro seres tão queridos
De família de partilha
Aquilo não ocorria
Não se via na cartilha
A notícia varou mundo
Palpites surgiram em pilha!

19.Por que aquela família
De bom nome, povo bom
Sofria aquele revez
Ouvia naquele tom
O grito da natureza
Seria esse seu dom!?

20.Depois de uma trégua boa
Bons momentos de ilusão
De prece e boataria
E de dor no coração
Já em uma casa nova
Começou a reconstrução!

21.Na casa velha deixara
Lembranças, eito, memória
Dos carnaubais o bom corte
Das farinhadas a glória
As redes tão bem trançadas
E a vida bem simplória!

22.Seu Tomaz, um diligente
Sempre bem cuidou de tudo
Era sempre o formiguinha
Com tristeza, sei, contudo
Mas, diante do bom Deus
Nunca se fez um miúdo!

23.Após tempo de bonança
De produção, calmaria
O destino do tal homem
Ele agora chamaria
Tomaz arriou, doente
Coração velho gemia!

24.Durou dois dias somente
Sua dor tão desmedida
Mais uma vez Livramento
Ao transtorno voltaria
Ao ver que o marido bom
Para o além partiria!

25."Sua dor doeu mais forte"
Como diz lá o cantor
A filha do sofrimento
Novamente desandou
Tropeçou nas próprias pernas
Por pouco não se acabou!

26.Seu Tomaz partiu depois
De quatro filhos se irem
De tanto seu coração
De rurícola ferirem
De tanto pranto e descrença
De sentimentos partirem!

27.Sepultado Seu Tomaz
O vazio se fez ver
Naquela casinha pobre
De um povo a merecer
Tanta tristeza conjunta
Todo mundo a perecer!

28.Uns dois anos se passaram
De saudade e calmaria
Livramento se apegava
A Deus, à santa Maria
Pois queria compreender
Tanta dor, tão sem valia!


 29.Mas sua sina era sofrer
Dor vinha de borbotão
O filho mais novo seu
Pela mulher de então
Foi traído em leito próprio
"Que sujeita sem criação!


30.Surgigado pelo crime
Da companheira traíra
Filomeno fez-se dor
Para sempre ela mentira
Lhe jurando amor sem fim
Na cilada ele caíra!


31.Nem respeito aos filhos teve
Embiricica de oito
A mulher do tal adúltero
Se planejou e em coito
Com um filho muito novo
Arisco, sagaz, afoito,...


32.... E mandou surrar Torquato
Seu marido traidor
Que, partido de chicote,
Se urinou todo, em dor
Não resistindo aos ataques
No mato, ali, se findou!

João Teles

Academia Palmense de Letras

Há problemas e sonhos reprimidos.
Há vozes na iminência de despertar.
Há uma longa senda a ser percorrida.
Há toda a crise de valores a contestar.

Temos alguns assentos preenchidos;
Outros tantos que esperamos ocupar;
A militância cultural a ser perseguida;
E bandeiras libertárias para professar.

De mãos dadas seguiremos fortalecidos
Contra a corrente do marasmo a velejar.
No mar revolto das trevas dos oprimidos,
O segredo do mundo das luzes desvendar.

Somos idealistas meio loucos reunidos
Da terra que dorme e esqueceu de sonhar.
Nas mãos, flores e livros; olhos comovidos;
Escrevemos poesia com palavra e caminhar.

Eliton Meneses

Galba Gomes e Raimundo Gomes


José Galba de Menezes Gomes é cirurgião-dentista, professor, escritor, nascido em Coreaú, em 12 de dezembro de 1943.

Há tempos radicado em Fortaleza-CE, Dr. Galba Gomes nos honra muito, também, como membro da Academia Palmense de Letras (APL), ocupando a cadeia de n.º 06, cujo patrono é outro coreauense e dentista, no caso, o Dr. Raimundo Gomes.

Por seu turno, Dr. Raimundo Gomes (tio-avô do Dr. Galba Gomes), nascido na Palma, em 06 de agosto de 1879, e falecido em Fortaleza, no dia 3 de setembro de 1961, cuida-se da figura que foi homenageada (in memoriam) pelo Município de Coreaú, visto que o Posto de Saúde inaugurado no dia de ontem, 08 de março de 2013, leva seu nome no frontispício.

Voltando ao Dr. Galba Gomes, é de autoria dele o livro "1968 E OUTROS MOMENTOS NA ODONTOLOGIA, NA POLÍTICA E NA CIDADANIA PLENA", publicado em 1999, pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR.

Portanto, duas figuras da mesma família, com atributos muito semelhantes.

Fernando Machado Albuquerque
Professor/Membro da APL

P.S.: O autor teve como fonte o livro História de Coreaú (1702-2002), de Leonardo Pildas.