terça-feira, 30 de dezembro de 2014

LUA




Noite bela, noite clara,
Noite tão enluarada,
Responde-me o que fazer
Ao ver teu brilho resplandecer,
Causando inveja a quem te vê.
Foco mágico não estático,
Às vezes alto, às vezes baixo.
Lua cheia, ora minguante,
Às vezes nova ou crescente.
Eis a bela incandescente,
Que fascinante a tanta gente!
Sempre ao escurecer,
Te olhar é um prazer.

Airla Gomes
Membro da APL

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

DO BANCO NÃO CONTO; DO JAIME, UM CONTO

Do banco do seu Jaime, aquele que o Mardone mencionou em sua crônica, nenhuma recordação tenho! Mas dele, como pessoa, tenho muito a contar. 
Quando criança, a minha mãe me tomava pela mão e seguíamos rumo à loja, ou mercearia, não sei ao certo, porque lá no comércio do seu Jaime, vendia-se o que se procurava. Tecidos, perfumes, brilhantinas, batons, rouges, pós compactos, sabonetes... A organização e a limpeza não ficavam muito aparentes. O espaço era pequeno. Um retângulo, separado ao meio por um balcão de cor escura. A minha mãe, que costurava ir por lá, à procura de tecidos. Ele sem muita simpatia, olhar cabisbaixo, vinha atender. Limitava-se a mostrar e responder somente o que a minha mãe perguntava. Não por querer destratá-la, mas pela sua natureza. Havia o respeito. Podia ser, também, porque a mamãe era uma mulher valente, danada! Sem papas na língua. 
Ele com seus dentes desgastados pelo tempo sorria um sorriso amarelado, salvo engano, encardidos pelo fumo que mascava. Calvo, cabelo branco e sempre penteado. Aqueles poucos fios de cabelos estavam sempre grudados de brilhantina, o penteado não desmanchava nem com o vento! Era o costume dos homens naquela época. Olhos pretos, redondos e pequenos. A barba branca, não lembro dela feita, também não era grande, era aquela barba por fazer. A barriga um pouco saliente, estatura mediana. O caminhar era arrastado, desgastando o chinelo. Não consegui lembrar do timbre da voz dele. 
Seu Jaime! As camisas eram de xadrez, brancas ou listradas. Não abotoava os dois primeiros botões, então, a camisa ficava escangotando (termo usado no interior quando se quer dizer que a roupa não tem um bom caimento ou está desajeitada no corpo). Daquele jeito que todos imaginam, caindo pra trás e encurtando na frente. A calça do vestuário era bege ou azul, tons sempre claros. 
Havia na companhia de seu Jaime duas mulheres: uma era, eu acho, a esposa e a outra, sua irmã. Não lembro o nome da esposa, mas era bem forte, cabelos lisos e castanhos, curto e partido ao meio. Seus vestidos eram soltos, mangas curtas e tinham golas, na cor branca, ou estampas florais pequenas. Simples em todos os aspectos. Não se via nenhum embelezamento. Já a irmã, que se chamava Inú, ou era a forma como as pessoas a tratavam, esta, era a vaidade em pessoa. Cútis muito branca, olhos e cabelos castanhos, cacheados mais ou menos na altura dos ombros. Gostava de um batom vermelho! Eu reparava, porque, sabe como é criança, me sentia atraída por cores vibrantes. Seus vestidos, sempre costurados no corpo, com fenda atrás e um tanto decotados. A cintura muito fina, quadris e busto bem avantajados, pernas grossas sempre à mostra. Os sapatos de salto alto, além de se banhar com uma fragrância, que a anunciava a dezenas de passos, de tão ativa. Mesmo com aquela boca vermelha, nunca presenciei um sorriso. 
Aos domingos não faltavam à missa e o mais da vida social não recordo. Não se ausentavam do comércio, que é uma atividade que exige a perseverança diária. Assim viviam as três pessoas de bem, respeitadas por todos na cidade de Coreaú. 
Vocês querem saber como veio a tona tantas memórias? Eu lhes digo que foi de uma infância bem vivida.

Airla Gomes
Membro da APL

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

REFÚGIO

Percorreu a rua do Peão no silêncio do meio-dia, fez a curva no oitão da Maria Preta, evitando o monturo vizinho e alcançou, depois de alguns passos, a água fresca do rio. Sentou-se na beira, avistou à distância duas lavadeiras nas pedras e mais perto um menino pescando piaba com uma garrafa furada. Molhou os pés e o rosto, ergueu-se novamente e resolveu atravessar o rio. Não precisou nadar. A água não lhe chegou a cobrir os ombros. Na estreita praia de areia formada do outro lado, contemplou a cidade sob uma perspectiva diferente. As cercas dos quintais à esquerda, as moitas copiosas que acompanhavam o leito até o campo Beira-rio e um extenso cercado que dava nas ruínas da Ponte Velha. Esgueirou-se na curva da vazante e seguiu no estreito caminho ainda não submerso até alcançar o imponente juazeiro. Sentou sob a sombra da árvore, provou dois juás maduros, apreciando a silhueta distante da Meruoca e, depois de um salto da ribanceira para um mergulho no rio, embrenhou pelo caminho da Raposa, quase todo coberto pelo mato que crescia no inverno. Passou pelo primeiro cajueiro, deteve-se um pouco no segundo, sentado num galho para ouvir um sabiá que cantava próximo, e seguiu adiante, espiando o legume que crescia vigoroso em cada cercado, embalado pelo aboio distante do vaqueiro e pelo mugido de esperança de uma rês...

Eliton Meneses
Membro da APL

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A VOLTA

Dá licença, minha terra, estou voltando
Estou aqui e aqui eu quero ficar
Pois é aqui onde nasci, é o meu berço e vou morar
É aqui que tenho alguém para amar

Ainda me lembro do tempo em que parti
A saudade no meu peito a latejar
No meu rosto a coragem estampada
E a esperança de crescer pra te ajudar

Mas com o tempo descobri que era ilusão
Que era um sonho e nada disso ia mudar
E refleti que depois de ter mudado
Era voltar e meus amigos abraçar

Estou voltando e daqui não vou mais sair
Todo meu sonho vou tentar realizar
A esperança é a ultima que morre
Nem todo mundo tem a sorte de voltar.


Francisco Rantzal Frota Felix
Membro honorário da APL
(*Feito no tempo em que voltei para Coreaú, mais ou menos no ano de 2002)

terça-feira, 28 de outubro de 2014

PURIFICAÇÃO



Sorve este verbo
Em cada doce
Fragrância de dor
Sonha, fagueiro
Na noite que finda
De ódio e temor
Sopra esta mágoa
Seca esta água
Impura
Que o batismo real
É de sangue
É de suor
É de sal
É de lágrima!

Sorri
Timidamente
Tacitamente
- depois -
E serás outro
Porque experimentaste
Ser um qualquer
Ser um ninguém.

Benedito Rodrigues
Membro da APL

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O BANCO DO JAIME

Logo ali, na esquina, havia um banco. Não se trata de um banco, estabelecimento tão comum hoje em dia, onde se deposita, saca-se dinheiro e se realizam tantas outras transações financeiras. No tempo deste banco do qual pretendo contar a história, nem se imaginavam coisas desse tipo lá na Palma. Para o bem da verdade, também não era um banco praceiro nem de jardim que existem nas cidades; era um banco de calçada, bem na esquina. 
Ah, era um banco pobrezinho! Uma prancha de madeira tosca, acredito que de pereiro, com um pouco mais de um palmo de largura e uns seis pares de bundas de comprimento. Sustentava-se em duas pernas, em forma de cambito, nas suas extremidades. Não parecia ter sido feito por marceneiro ferramentado. Porém, a face de sentar-se era lisinha, lisinha; não porque tenha sido envernizada, acredito que pelo constante roçar das bundas que nele se sentaram ao longo de anos. 
Como ficava na rua onde eu morava, eu passava por ele várias vezes ao dia e, dependendo da hora, estava vazio ou abundante de frequentadores. Durante a semana, no início ou no final do dia, estavam lá sentados ou em pé, à sua volta, senhores respeitáveis da sociedade, muito deles, autoridades constituídas, como prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, coletor, juiz, delegado; não me lembro de ter visto o padre. Aos domingos, antes da missa das nove, a frequência era mais democrática, fazendeiros e pessoas que moravam na zona rural entravam na bodega, em cuja calçada ficava o banco, para tomar uma pinga da cacimbinha ou um trago de conhaque São João da Barra e, no banco sentavam-se à espera da missa começar. 
Pela característica eclética de seus frequentadores e, considerando-se que havia, desde contritos irmãos Marianos até ateus, que nunca botaram o pé na igreja, simpatizantes dos partidos azul e encarnado e adversários políticos, reinava, acima de tudo, o signo da confraria, da amizade e do respeito entre seus frequentadores. Hoje, olhando para trás, diria que era como um fórum informal, um "Senadinho", onde senhores, acima de todas as diferenças, confabulavam sobre quase tudo que fosse de seu interesse e da sociedade palmense. Conversava-se sobre tudo: o pesar pela morte de alguém da cidade; a vaca que morreu de mordida de cascavel; a enchente do rio; o preço do algodão e da torta de caroço de algodão (resíduo para ração do gado), quem chegou de Fortaleza pela Macaboqueira, os melhoramentos na cidade, como o calçamento das ruas, até sobre o tamanho da procissão e tantos outros assuntos, próprios de cidadezinha de vida pacata e gente amiga. 
Tenho vivo na memória visual e emocional os principais protagonistas da história desse banco. Meu pai, os irmãos Gomes Deusdédit e Dimas, seu Totonho Aguiar, Vilar, os prefeitos Novo Camilo e Vicente Benício, o juiz Dr. Ribeiro, que morava na casa vizinha, os irmãos João Teles e Chico Teles, seu Doda Machado, Dr. Manoel de França, nas vezes que vinha do Cunhassú para presidir às reuniões da Câmara Municipal e alguns outros que me escapam à memória agora. Um dado interessante: não havia mulheres frequentadoras do banco, não que eu me lembre; se alguém lembrar de alguma que me diga. Aliás, as mulheres, senhoras ou jovens, costumavam mudar de calçada para não ter que passar na calçada do banco quando estava lotado. Não era, acredito, com medo de serem mal faladas, pois, como já disse, eram senhores respeitáveis seus frequentadores; elas costumavam, também, segurar a saia "pro mode" o vento não levantar. 
Para os palmenses já compridos nos anos, já devem estar desconfiados de qual banco estou falando e os da geração pós-banco, procurem se informar com seus pais ou familiares que, certamente, confirmarão esta minha história, pois estou falando do Banco do Jaime, um senhor tranquilo e muito cuidadoso, com o asseio de sua bodega, estava sempre com um pano na mão limpando as garrafas e o balcão. O banco ficava na calçada de sua bodega na esquina da rua de Baixo com a rua da Casa Paroquial, bem em frente à antiga loja do Vilar. Foi ali, naquela calçada, naquela banco que não existe mais, cujos frequentadores mais antigos já passaram pro andar de cima, que a história de Coreaú escreveu alguns de seus capítulos. Foram aqueles senhores que deixaram uma geração de homens e mulheres de bem que hoje orgulham a nossa terra. Hoje, fico com as lembranças e, às vezes, a saudade do meu pai vem junto com saudade de todos aqueles veneráveis senhores a quem aprendi respeitar e dos quais nunca esqueci. Se eu fosse Prefeito de Coreaú (sei que é um projeto caro), faria uma escultura em bronze do Banco do Jaime, com a estátua de Jaime sentada nele, ao molde do que há no Rio com o poeta Carlos Drummond de Andrade. Afinal, a história de uma sociedade, de uma cidade se eterniza pelas gerações seguintes, homenageando-se e preservando-se a memória de seus construtores. Declararia o Banco do Jaime patrimônio histórico e cultural de Coreaú.

Mardone França
Membro-honorário da APL

sábado, 4 de outubro de 2014

"BENÇA", PAI?!

Meu avô era fazendeiro, tinha uma família numerosa, sendo duas moças e quatro rapazes, a fazenda dele ficava distante da cidade onde ele sempre ia vender os legumes ou animais, como também comprar outros produtos que só tinham na cidade. A negociação de compra e venda era feita na feira do município, que era realizada nos dias de sábado pela manhã. Meus tios passavam a semana na labuta, mas nos finais de semana iam pros forrós. Meu avô sempre programava sua ida à feira numa noite de luar porque os caminhos ficavam mais claros, pois eram veredas estreitas entre os garranchos da caatinga. Numa dessas idas à feira, meu avô marcou a viagem na mesma data de uma festa que iria acontecer lá pela vizinhança da fazenda e que meus tios iriam com certeza. Noite cedo, eles seguiram para o tal forró, mas meu avô resolveu sair na madrugada, que era para amanhecer o dia já lá na feira. Montou seu cavalo e viajou aproveitando ainda o clarão da lua, seguiu pelo caminho de terra que atravessava o leito seco de um rio, ao lado do qual havia várias oiticicas de copa grande, que deixavam o local bem escuro. Corria um boato que nesse local sempre aparecia uma visagem, mas meu avô era corajoso e tocou a caminhada em frente. Na festa, um dos meus tios não estava se sentindo bem da barriga e resolveu voltar mais cedo pra casa. Quando chegou no local da assombração, teve que atender uma necessidade fisiológica e foi pra debaixo da oiticica. Como naquele tempo toda vez que um filho ficava na presença do pai tinha que tomar a benção, aconteceu que meu avô apareceu no caminho justo nesse momento, tendo meu tio o avistado, mas ele não; então, lá do meio da escuridão, meu tio disse:  "Bença", pai?! Nessa hora, segundo me contaram, até o cavalo tomou um susto e jogou meu avô no chão, que, ao se levantar, disse:  Isso é hora de tomar bênção? Tu mereces é levar umas chibatadas! Quase que me matou de susto, seu filho de uma... 

Memórias de Dr.ª Maria Selva

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

PRIMEIROS MEMBROS-HONORÁRIOS DA APL


A Academia Palmense de Letras (APL) acaba de nomear os seus 04 (quatro) primeiros membros-honorários. Nos termos do art. 5.º, inciso III, do Estatuto da APL, sócio-honorário é aquele agraciado com o título, por decisão da maioria dos sócios-efetivos, por ter prestado relevantes serviços à Entidade, contribuindo para o desenvolvimento da cultura e das letras do Município e do Estado.

O primeiro membro-honorário é Raimundo Nonato de Aguiar, o Professor Aguiar, que teve sua vida inteira dedicada à educação de diversas gerações coreauenses.


O segundo membro-honorário é Mardone Cavalcante França, professor aposentado da UFRN, escritor refinado e amante da fotografia e de tantas outras manifestações artísticas.


O terceiro membro-honorário é João Alberto Teles, cirurgião-dentista com mais de três décadas dedicadas à Palma, apicultor comprometido com o futuro do planeta e estudioso da memória e da formação econômica coreauense.


O quarto membro-honorário é Rantzal Frota, professor dedicado, cultor da vida e da arte e arquivo vivo de muita estória palmense.


sábado, 20 de setembro de 2014

O QUE É O AMOR?!

Amor é ... 
Perdão.
Cumplicidade.
Tolerância.
Entender o outro.
Renúncia.
Desprendimento.
Compreensão. 
Querer bem.
Quando um não quer dois não brigam.
Estar no lugar do outro e
Sentir os problemas do outro.
Sentimento de entrega e sacrifícios.
Fazer o bem sem olhar a quem.
O amor é o mais nobre dos sentimentos, por ser verdadeiro e espontâneo, e nada exigir em troca.
É o principal mandamento que DEUS nos deixou/ensinou (“Amar a DEUS sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”).
Por isso, não existe felicidade sem amor.

Cosmo Carvalho
Membro da APL

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

SOBRE O AMOR

O amor não escolhe Cor,
Beleza,
Tamanho,
Sexo,
Riqueza ...
O amor é a manifestação dos sentimentos
E da atração química entre os corpos.
O amor está entrelaçado no Sorriso Meigo,
Safado,
Aberto,
Espontâneo...
O alimento do amor é a Carícia,
Atenção,
Respeito,
Fidelidade...
Ame sem fazer escolhas,
Apenas deixe seus sentimentos te guiarem.

Jesus Frota Ximenes

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

CONTO DE SETEMBRO

Dia 14 de setembro de 1959. O locutor da amplificadora com voz empostada anunciava: para uma bela jovem que está, neste momento, sentada no banco da praça, alguém com o coração apaixonado lhe oferece esta linda página musical na magnífica voz de Nelson Gonçalves; para você, a normalista! A voz possante de Nelson tonitruava no éter estrelado da cidade em festa. 
Meu afilhado, no burburinho dos vai e vens da multidão, dividia sua atenção entre a banda que tocava no patamar da igreja, se antecipando ao grande leilão, e sua obrigação de cuidar das vacas no curral que ficava próximo de sua casa. Seu pai o encontra e pergunta: 
− Marcelo, você já foi ver se a Cigana chegou? 
− Não pai, mas vou agora. 
− Pois vá mesmo, são quase oito horas da noite; é preciso separar o bezerro pra amanhã se tirar o leite. 
Marcelo, com apenas onze anos já tinha suas responsabilidades para ajudar seu pai na labuta do dia a dia. Lastimou ter que sair da animação da festa. Bodejando cobras e lagartos, amaldiçoou aquela vaca profana (tirou-o no melhor da festa da Piedade) que sempre chegava cedo ao curral e, justo naquele dia, véspera do final da festa de setembro, atrasou tanto. O garoto estava no seu dia de glória, vestia a calça (curta) de linho branco, bem engomada que eu, como seu padrinho, havia lhe dado de presente e a camisa volta ao mundo azul piscina, prenda de sua madrinha. E mais que isso: estreava os sapatos que esperou dois anos seus pés crescerem para poder calçá-los. Estes sapatos lhe foram deixados pelo irmão mais velho, que os usou até não caber mais nos pés. 
Enquanto Marcelinho esperava crescer os pés, os sapatos repousavam envoltos em uma flanela numa caixa de sapato dentro do armário e, vez por outra, recebia cuidados especiais: eram escovados, engraxados e experimentados para ver o quanto ainda sobrava sapato e faltava pé. Aguardava ansioso o dia de poder calçar sapatos novos; pouco importava se eram herdados, para ele era novo! Sua mãe, minha comadre, admirou a beleza do filho todo arrumadinho. 
– Meu filho, você está muito bonito, já se parece um rapazinho, hoje vai até arrumar uma namoradinha. 
– Oh, mãe, eu ainda sou pequeno, não quero saber de namorada, não; eu sou da cruzada, tenho que rezar e ajudar na missa. Hoje vou ficar com o turíbulo, gosto do cheiro do incenso quando o padre coloca na brasa; sobe uma fumaça cheirosa! 
Ao chegar ao curral, na rua dos fundos de sua casa, Marcelo encontrou a Cigana malhada, tranquilamente, ruminando o pasto do dia. Naquele ambiente pouco iluminado, Marcelo tratou logo de por a vaca para dentro do curral, juntando-a ao bezerro e aguardou impacientemente o bezerro apojar para, em seguida, apartá-lo da mãe e correr de volta para a animação da festa. O pior para Marcelinho estava por vir. 
Fechou a porteira do curral apressadamente para abreviar seu retorno à Praça da Matriz, onde seu pai, sua mãe e seus irmãos estavam sentados na primeira fila próxima à mesa com as prendas do leilão. A comadre Jovenise se deu pela falta do filho; preocupada, perguntou à filha, que se sentava ao seu lado, se tinha visto Marcelinho por onde ela andou. 
– Não, mãe! Perguntei aos amigos dele e ninguém soube dizer onde estava. Foi quando meu compadre Jeremias percebeu a aflição da mulher, informou que o havia mandado chiqueirar a Cigana no curral. 
– Valha-me, minha Nossa Senhora da Piedade, cadê meu filho, o que terá acontecido com ele? Vamos Jeremias! Agora mesmo ao curral. Que Deus me perdoe! Marcelinho pode ter levado um coice ou uma chifrada, ele ainda é tão criança para fazer este tipo de serviço. A família se levantou e rumaram todos para o curral. 
De repente, como rastilho de pólvora, o boato se espalhou pela praça: Marcelinho, filho do Jeremias levou um coice da vaca; outros corregiam: 
– Não, foi uma chifrada. 
E todos, em uníssona solidariedade, rumaram para o curral, deixando quase esvaziado o leilão. O vigário, que estava muito interessado naquele leilão, pois seria leiloado um garrote doado por um fazendeiro rico, esperava fazer um bom apurado para Nossa Senhora. Muito a contragosto, o pároco suspendeu, por alguns instantes, o leilão até que se tivesse notícia do menino que levou uma chifrada. 
Foi quando se ouviu a voz embargada de emoção do locutor da amplificadora anunciar: 
– Atenção,  senhoras e senhores, tenho uma notícia triste. Marcelo, filho dos nossos queridos paroquianos Jeremias e Jovenise, sofreu um grave acidente nesta noite. Foi violentamente chifrado por uma das vacas de seu pai, e ,segundo informação, será levado para Sobral com grande hemorragia. Que todos rezem para que o pequeno cruzadinha de nossa paróquia sobreviva para a alegria de todos. Que São Tarcísio o proteja! ´
A família chega ao curral e nada de Marcelo. O pai vasculhou o curral todo. Estava tudo em ordem, a Cigana e o bezerro separados e as porteiras bem fechadas. A aflição aumentou. Rumaram para casa na esperança de o encontra lá. De fato, Marcelinho estava aos prantos. Quando viu a mãe foi logo dizendo: 
– Mãe, pra mim a festa acabou. 
– Oh, meu filhinho! O que lhe aconteceu, você está ferido, está sangrando muito? 
– Não, mãe! Não estou nem ferido, e nem sangrando. 
– E o que aconteceu com você, meu filho? 
– Meti o pé na bosta, meu sapato, está todo cagado, não serve mais pra nada, eu não tenho outro sapato, como vou voltar pra festa? Foi um alívio para todo mundo e o pai quis saber como aconteceu. – Me conta meu filho, como isto sucedeu.
– Estava muito escuro pai, quando fechei a porteira do curral e ia voltar para a praça meio apressado, pisei com meu sapato numa ruma de bosta de vaca; desgraçou meu sapato, não serve mais pra nada. 
Nisto chega a turma que deixou a praça. Quando avisada do que realmente tinha ocorrido, a reação foi um misto de alívio e de galhofa. De repente, não mais que repente, a nova notícia se espalhou pela praça. O padre ordena a retomada do leilão e pede para Luiz Breu, o leiloeiro oficial, anunciar a boa nova: 
– Aaaatentençãoooooooooo! O memeninino não lelevovou uma chichifrafrada não, fofofoi uma cacagagada. QQuem dadádá mamais por esssta gagalinhha aassada? 

*********************** 

A banda tocou e a festa continuou. Em quase tudo na vida, acontecem as cagadas, até na festa de setembro. Nunca vi uma cagada dar tanta confusão.

Mardone França

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

ASSIM, FAZ A CANETA CORRER




Assim, faz a caneta correr

Sumida da escrita porquê,
A lida consome o tempo
O tempo limita as horas
E não tem escapatória
Quando se vê, o dia passou.

Mas quando se faz o que gosta
Arruma-se um jeito daqui e dali
Ajeita, deixa feito, ou desfeito
O trabalho, a canseira.

Assim, faz a caneta correr
Entre as linhas do papel descrever:
Fatos, valores, amores...
Assim como a seiva circula as folhas
É nesse mesmo vai e vem,
Que a ponta da caneta rabisca,
Imagina, prospera, pondera...

A mente adoça,
Aguça, encuca
Mais que de repente
Surge o sabor,
Sabor de mel, ou fel.
E é nessa inquietação,
Que o texto surge.

Literatura?
Quem sabe!
Poderia ser um cordel!
Apresentando um conto
Improvisado, arretado.
Daqueles que deixa o leitor
Atordoado, estonteado!

Na ansiedade ele pula
Do começo para o fim
Não lê as entrelinhas
Para entender,
O que o deveria saber
Logo que terminasse
A história de ler.

Airla Gomes M. Barboza
Membro da APL

domingo, 31 de agosto de 2014

PEDRAS


Pedras, simplesmente belas,
Belas duramente pedras, 
Ao céu querendo chegar, 
Da terra não podem se despregar. 
Assim, tal qual meus sonhos me fazem voar, 
Da realidade crua, nua, 
Às vezes belas, Às vezes feias, 
Não posso escapar.

Mardone França

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

DIA DOS PAIS



A figura do pai tem significado muito forte desde a mais remota das civilizações e religiões. Todo pai reveste-se de importância e referenciais; o meu pai foi é um referencial para mim; deixou a imagem e o exemplo de disciplinador diante de circunstâncias e sempre com o contraponto da doçura de minha mãe. Mas havia entre eles um pacto tácito de respeito entre as atitudes e mútuas decisões – que sábia hierarquia! O frágil "rigor" de papai era adoçado na minha infância pelas cavalgadas que com ele fazia em suas idas até o Morro-Redondo, de sua propriedade, para nos períodos invernosos ver a evolução dos roçados e o pastoreio das vacas e caprinos nos campos de pasto.
Guardo na memória as informações transmitidas por ele durante o tropel do cavalo no percurso entre a Palma e a fazenda; falava sobre as serpentes, raposas, guaxinins, onças e outros animais. Diante de minha curiosidade infantil descrevia seus modos de vida e defesa. As aves, estas eram comentadas com severa recomendação a ser cumprida: de nunca atirar nas aves através de baladeiras, instrumento proibido, cuja determinação haveria de ser cumprida. Na nossa casa não tinha baladeiras. Não lembro de ter "assassinado" um pássaro.
O descortino das coisas do mundo descritas por ele ia desde as normas comportamentais, os estudos e os horários. Menino ainda de 12 anos, vim com ele pela primeira vez a Fortaleza, a cidade grande, no ônibus da Expresso de Luxo, um Fargo que partia de Sobral, alguns vindos de Teresina, para uma consulta médica. Nos hospedamos na Pensão Napoleão, na Rua Senador Pompeu. Chegamos numa noite e no dia seguinte, após o café matinal, fomos à consulta com o doutor. Após a consulta, papai, no intuito de agradar-me, perguntou: – Galba o que preferes, subir num arranha-céus ou ver o mar? De pronto respondi que queria ver o mar. Aí aconteceu um dos momentos que nunca consegui esquecer: fomos até a Praça do Passeio Público; era uma tarde verão, creio que outubro ou novembro, o azul infindo do mar deixou-me extasiado e emocionado. Ao lado, relembro a felicidade de papai a descrever, diante de minha admiração, que o mar terminava em outras terras muito distantes.
Esta remota imagem é inesquecível, assim como a satisfação dele de ter proporcionado esta encantadora emoção. Assim são os papais, diferentes, unos, justos, solidários e o forte protetor dos filhos.
Feliz dia do papai a todos que já se foram e aos que ainda estão presentes, simples ou sofisticados... 

Galba Gomes 
Membro da APL

P.S.: A foto, de forma deliberada, mostra outros tempos em que as pessoas ofertavam aos amigos com dedicatória. Meu Pai era Deusdedit Gomes Fontenele.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

SERTÃO


Nessa terra ressequida, 
Tantas vezes esquecida, 
Pouca água cai no chão; 
De um povo resistente, 
Desde muito padecente 
Das agruras da estação. 

Gente pobre oprimida, 
Generosa e destemida, 
De Luiz, rei do Baião; 
Do forró, da simpatia; 
De prece e de valentia: 
Padim Ciço e Lampião. 

Terra do roceiro bravo, 
Da peleja qual escravo, 
Do vaqueiro de gibão. 
Terra de tanta poesia, 
De viola e cantoria, 
Da festa de apartação. 

Terra do caboco pardo, 
Agarrado em duro fardo 
Nas lidas da plantação; 
De um povo inteligente, 
E de mulherio decente; 
De Lunga e Frei Damião. 

Berço da mãe heroína, 
E da doce cajuína, 
De Alencar e de Tristão. 
Terra de bastante glória, 
A mais fértil da história, 
Conhecida por Sertão.

Eliton Meneses

quarta-feira, 30 de julho de 2014

ACENTO DA EXCEÇÃO

Que a explicação seja breve:

afadiguei-me de emoções caladas
a desrazão traduzida/barrada
não cessa de ser a exceção
acentuada.

Benedito Rodrigues
Membro da APL

terça-feira, 29 de julho de 2014

PROSA COM A LETRA P


Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor, português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir. Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas. Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai, para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris. Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas. Pisando Paris, permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se. Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo... Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses. - Paris! Paris! Proferiu Pedro Paulo. - Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir. Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, Papai Procópio partira para província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas. Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu: - Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias? - Papai, proferiu Pedro Paulo, pinto porque permitiste, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal. Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro. Pisando por pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito. Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo. Primeiramente Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos. Particularmente Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo, pereceu pintando... Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar... Para parar preciso pensar. Pensei. Portanto, pronto pararei.

Cláudio César 
Engenheiro Agrônomo

quarta-feira, 23 de julho de 2014

PAINEL APL


Morre o gênio do riso, das letras, do bom humor... O melhor do pós modernismo brasileiro na literatura. Clique aqui para ler mais. Ele e sua genialidade deixam órfãos os amantes da boa leitura e do espírito crítico. A Academia Palmense de Letras - APL, perde o seu único patrono vivo. Ariano Suassuna, patrono da cadeira número um da entidade nos deixa hoje para abrilhantar no plano superior que com certeza ficará mais alegre quando de sua chegada lá cheio de prosa e boas histórias para contar.

Deu quando de sua passagem aqui na terra a mais honrosa contribuição para a literatura e a arte do riso, fosse em seus romances, fosse em suas peças teatrais, fosse em suas palestras e histórias contadas em documentários e rodas de amigos pessoais.

Não serei hipócrita para dizer que ficamos mais pobres no quesito letras. Não. Ele deixa um verdadeiro tesouso para ser lido e apreciado por muito de nós que a exemplo de mim mesmo só conheço sua obra atraves das adaptações para tv e teatro.  

Vai Ariano... Ariano vai... Cumpriste com a maior dignidade tua nobre missão aqui na terra. O plano superior o espera!!! Com festa, não tenho dúvidas... Serás bem recebido com certeza...

Tenho dito... E sempre!!!

Manuel de Jesus
Membro da APL

terça-feira, 1 de julho de 2014

PRIMEIRO CANTO DE UNIÃO


Não adianta reclamar sozinho
Se não te entregas para lutar,
Pois não será somente um passarinho
Forte o bastante para anunciar

O sol recente que já vem surgindo
No horizonte de um novo amanhã;
Traz a vanguarda do sonho mais lindo
De toda gente, junta, como irmã.

E se canto é porque creio
Que ainda há por que cantar!
E se sofro é porque teimo
Em amar, em amar...

Mas do que vale toda inteligência
E toda força, toda vaidade?
Não há proveito se tanta potência
Não se cobrir com o manto da humildade.

O anúncio vivo deve se espalhar
Por toda sorte de povo e de terra.
Só há um jeito para começar:
Desprenda o grito que o medo se encerra!

E se canto é porque creio
Que ainda há por que cantar!
E se sofro é porque teimo
Em amar, em amar...

Benedito Gomes Rodrigues

sexta-feira, 27 de junho de 2014

O QUE É A CRÍTICA?

É a laranja podre e fedida que nos jogam aos pés. É a lima amarga que desagrada a nós e aos nossos (tão bem protegidos). É a velha mexerica de fundo de balaio, já renegada até pelo feirante que antes berrava, ávido por cifrão. É a melancia, passada, que não mais interessa aos pescoços. É o abacaxi cascudo e sem gosto que nos assalta o gosto por coisa melhor.

É a bem recebida manga da manhã. É a jaca da jaqueira da melhor quinta, que nos adoça o bico, com seus bagos d’ouro. É o abacate de polpa suculenta que nos enche o peito de gosto e gostosura.

Crítica é bicho bom. Quando nos agrada as oiças. É troço ruim, quando fala demais de nós e dos nossos - que mantemos na cápsula da (in)sensatez. Crítica é rasgo... é engasgo! É algo como “estou feliz, tou pasmo!” Crítica é... depende de quem a olha!

JOÃO TELES DE AGUIAR – professor, membro da Academia Palmense de Letras - APL

domingo, 15 de junho de 2014

MÃE QUERIDA

Neste dia 11 de Junho
Pelas ondas do celular (que não funcionou como devia)
Fico sabendo à noite pelo mano Paulo
Da inesperada partida de nossa Mãe Dilma
Falamos em fins de maio próximo passado
Na data do seu 89.º ano de aniversário natalício
Era sempre uma conversa alegre e descontraída
Que costumeiramente ocorria nas tardes de domingo
E Ela estava tão bem.
Mas apenas quatro dias depois 
Um inesperado, indesejado e terrível AVC (acidente vascular cerebral)
Deixa minha querida Mãe Dilma muito doente
E começava aí sua partida para o Céu.
Poucos dias durou o seu último Calvário
No Hospital Regional Norte
Da linda e vizinha cidade de Sobral.
Para quem conheceu nossa Mãe Dilma
Nem é preciso dizer que foi uma grande guerreira e lutadora
Sempre em defesa da Família, e especialmente de sua prole.
Teve dezenove filhos, com cinco pares de gêmeos,
Do qual sou um dos representantes duplos.
Efetivamente foi nossa primeira Professora
Que "tirava" e cobrava de cada filho no seu tempo
As lições de Tabuada (aula de Matemática) e do ditado, ler e escrever (aulas de português e redação).
Era sempre no final de tarde
Sentada na rede da sala de jantar
E a palmatória na mão
A molecada de pé, um por um, ralando e mostrando conhecimento,
Mas se alguém não passasse pelo crivo da Mestra
O instrumento (educacional) de madeira era usado nas mãos dos alunos reprovados
E o local do estágio era sempre a mercearia do mercado público.
Naquela época era assim que nossa
Mãe criava, forjava e educava todos os seus filhos
Para entregar para a sociedade
Cidadãos, profissionais, homens e mulheres de bem capacitados em diversas áreas do conhecimento.
Em Janeiro último estive alguns dias com Ela.
Mais uma vez foram momentos agradáveis
Mas, na véspera da Copa Mundial de Futebol FIFA 2014
O nosso Criador, o Todo Poderoso e arquiteto do universo Jesus Cristo
Achou por bem levá-la para o andar de cima e já descansa em paz
Deixando os 15 filhos órfãos e com muita saudade.
Talvez em atendimento do nosso Pai terreno (seu) Raimundo
Que nos deixou muita saudade desde fevereiro de 2007
E agora certamente tenha dito lá do Céu: "Ô minha véia, como você demorou?".
Todos sabem que a vida nesse plano terreno 
É provisória, temporária e foi dada ou emprestada por Deus,
Por isso, agradeço a Ele (Pai do Céu) todos os instantes que vivemos juntos,
Especialmente os 89 anos de vida de nossa Mãe Dilma conosco.
Que Mamãe e Papai descansem em Paz na casa do Senhor,
À espera de um dia reencontrar os filhos amados.
Aos meus irmãos muita paz, saúde e serenidade nesses momentos difíceis.
E que Deus abençoe e proteja a todos.
Agradecendo a todos as palavras e manifestações de carinho e apoio.
Se para o filho a perda de sua mãe é muito dolorida, deve ser maior ainda do filho que não teve a oportunidade de realizar a sua última despedida.
Mamãe Dilma, tenha uma certeza: sempre te amei e amarei por toda a minha vida!

Cosmo Carvalho

domingo, 8 de junho de 2014

NÓS...

Usamos eletrônicos radioativos
Alimentamos com cada vez mais química
Não queremos mais saber de caminhar
Até pra irmos à casa de um vizinho, usamos motor para nós deslocar
Compramos tudo e não cuidamos mais em improvisar,
Nem quando um objeto quebra não nos ocupamos mais em concertá-lo
Procuramos maquinas multifuncional para nos facilitar
Com eficiência, rapidez e sem nada manual,
Preferimos usar em tudo controle remoto
Para não precisar mais estar-nos a se levantar.

Nós não queremos mais trabalhar
Procuramos um emprego que seja confortável,
Que trabalhe pouco e ganhe mais.
Amor, felicidade, Deus,... São pensados no plural
Nossos sonhos são; conforto e adquirir poder, fama e ascensão social

Estamos ficando cada vez mais sensível a natureza
E ao mesmo tempo mais distante dela estamos a ficar
Não queremos mais pegar sol para não enegrecermos e nem suar,
Todos nós estamos ficando cada vez mais artificial.

Queremos cada vez mais é consumir, experimentar, usar e descartar,
Não pensamos as suas causas e consequências
Nem o destino aonde vai nos levar.

Desejamos tudo de bom só para nós
E não pensamos mais no bem dos nossos semelhantes.
Tudo nos meios de comunicação em massa está passando
Em três dimensões e em tempo real
As inúmeras informações passam como numa esteira a nossa visão
Tão velozes não temos tempo de refleti-las
E continuamos desinformados e ignorantes.

Francisco Erandir Lima Albuquerque (2012)
Membro da APL

segunda-feira, 2 de junho de 2014

SITUAÇÕES

Ri com escracho, ri aos cachos
Tirei do monturo a iguaria
O pão seco
Cisquei o chão, vi o piso teso
Fiz um facho
E adentrei à fofa, pasteira estribaria

Vi negros espertos
Tratando potros a nenê
Com uma chuva de suor nos lombos
Fui recebido por serviçais numa ante-sala
Lindas, com seus buquês
Vi na trempe o fogo, a zoada, o estrondo!
Vi senhoras rabiscar o papel ordinário
E senhorinhas escorregar na escada
A ave solteira mandar recado ao canário!

Uma festa dormitava
Não fluía na madrugada
Se cantavam ladainhas
Se orquestrava o hinário
Mas não se fazia um rastro
Não nascia uma pegada!

João Teles, membro da APL
(publicada originalmente em 1995 pela DGF Edições)

domingo, 1 de junho de 2014

UM NOVO LAR

Um novo lar está nascendo
Atendendo ao pedido da família
É um presente de Deus
E abençoado pela Santíssima Trindade
Graças aos anos de trabalho e economia
Que está se tornando realidade.

Fica na capital do sol
Numa esquina apreciada
É um verdadeiro condomínio clube
A sessenta metros do solo.
Tem "spa" completo cobiçado
Lá ninguém desconsola.

Tem piscinas, academia e área de lazer,
Churrasqueiras na varanda e à beira da piscina,
Sauna, hidromassagem e playground,
Cinema, salão de festas, jardins e até fumódromo.

E como presente diário
Além do espaço harmonioso com a natureza e moradores
O Senhor do Universo manda a brisa do nascente
Sempre mansa, suave, amena e serena
Com o horizonte e o mar à vista.

Tem segurança e colaboradores educados e atenciosos
Chancelada pela C. Rolim
Com equilíbrio ambiental
Aliado a sustentabilidade
Que faz a satisfação e alegria das famílias e dos interessados.

A ponte aérea precisa ser reprogramada e intensificada
Para o gozo dessas belezura
Sem esquecer-se da carteira "smiles" reforçada
Para curtir a terra do sol nascente brasileira.

Cosmo Carvalho
Membro da APL

sábado, 31 de maio de 2014

RETROVISOR

Coreaú, Ce, 31 de maio de 2014 d.C 

Na bucólica urbe de tempos decadente, acordei hoje para uma visita a um amigo. Tião. Quero ver como se encontra o guerreiro neste trinta e um de maio, o mês de Maria, a mãe de todos nós inclusive dele também. Novamente o encontro de olhar fixo no horizonte west. Parado, nada falo, e ao seu lado sento tranquilamente para observar aquele momento de meditação.
Calado ele permanece. Como se não notasse minha presença, alí fica por momentos. Novamente uma lágrima... Ah... aquela lágrima constante. Talvez represada durante tempos. Séculos talvez... Em silêncio permaneço e solidário, mais uma vez também deixo rolar... Uma lágrima...

Minutos se passam... A claridade da luz proveniente do astro rei sobre o palco da vida nesta manhã de esperança e sonhos onde mais um ato da peça retrovisor se desenrola, torna o cenário magico. Indescritível... 

Mansamente Tião quebra o silêncio do ambiente e começa a relatar lembranças e feitos d'outrora ao lado da sua única, verdadeira e eterna Fulô... Ah! Que lembranças! Como se despido do véu da materialidade, sua visão se transporta para a linha do tempo e corre épocas e épocas na história da humanidade para reviver os áureos momentos da vida com único, verdadeiro e eterno amor.

Roma, ano 80 dC. O invencivel pretoriano Tibias chega à sua instancia de repouso para o descanço de mais uma jornada de conquistas. Florentia, linda e rubra como sempre corre até o terraço e recebe seu amor com um abraço dos deuses. Apertado... Repôe as energias do bravo combatente com um doce beijo. Sedento e cansado das lutas ele descansa a sua merecida temporada nos braços de sua estimada e fiel companheira. Mas a posição politica e profissional o reclama às trincheiras da vida e em breve ele retorna à sede do império para servir aos interesses de Titus Vespasianus. É neste momento que Tião afrouxa mais um pouco e aumenta a vazão do canal lacrimal para fazer jorrar sobre o rosto não uma, mas um rio de lágrimas... Ficar longe de Fulô era a mais árdua e difícil batalha... 

As lutas terrenas por fim levam Tibias à pátria espiritual quando já não tão forte como outrora és vencido por jovem guerreiro oponente em mais uma batalha injustificada do império conquistador.

Em breve tempos Fulô também retornaria. E juntos novamente correm de braços dados pelos indescritíveis champs élysées. Desta vez, sem as vestimentas carnais. Unidos pel'alma eles alí passam a ter noção da condição de almas gêmeas que a posteridade lhes iria oferecer em sucessivas jornadas no porvir... E foram muitas... E como os débitos eram enormes havia urgência do retorno.

Roma, ano 130 dC. Ratificando a infinita misericórdia Divina eis que o nosso casal de protagonistas retorna ao exílio terreno, desta vez, não na condição de nobres mas sim como servos da nobreza. A providência superior em sua bondade imensa os tira das inglórias e bárbaras lutas movidas pelo egoísmo humano para os colocar sob a pele de humildes escravos no palácio do grande humanista e governador da época Publios Hadrianus. Não havia mais belo cenário para o novo capítulo da vida material de Titão e Fulô, que naqueles remotos tempos eram nada mais nada menos que os servos Tigus e Fulvia. Sem direito a externalizar a atração que os unia, os dois passam a vivenciar às escondidas nos sombrios corredores do palácio as mais calorosas noite de amor. Atraído pela beleza indescritível de Fulvia, membro inescrupuloso da guarda imperial começa a tentar a bela serva que lhe nega firmemente o mínimo olhar discreto. Diante da relutância, um dia na calada da noite quando Fulvia se dirigia a mais um encontro com Tigus o repugnante guardião ataca a indefesa escrava. Tigus que se aproxima entra em luta corporal com o mesmo, tombando agonizante sob o fio da espada de impiedoso guardião. Para não reviver os sentimentos negativos após o trágico acontecimento, Tião não me relata o que acontecera a Fulvia após o trágico incidente, apenas disse tê-la em pouco tempo recebido na dimensão espiritual a companheira de lutas e glórias...

E mais e mais vezes sempre juntos eles alternaram entre o exílio terreno e a vida na pátria espiritual. Sempre de mãos dadas. Por muitos séculos os mesmos adentraram rumo ao futuro. De nobres a escravos, passando por senhores feudais, até mesmo por religiosos vivenciando encontros furtivos na calada da noite nossos protagonistas caminharam lapidando a alma sedenta por evolução e amor até chegarem à época presente. Época esta que Tião reluta em me descrever, mas que usando de confiança extrema depositada em amigo de longas datas ele me confidencia fragmentos deste ato presente nesta peça cujo enredo denuncia, amor... amor... amor... Somente amor... Ah... Como se não bastasse... Obstáculos... Inúmeros obstáculos...

Brasil, terra do Cruzeiro, segunda metade do século XX d.C. Para poupar figurantes deste enredo, Tião pede reservas quando à precisão de datas e a geografia do lugar, mas deixa a entender que o nosso casal de protagonistas retornara ao exílio em datas e locais muito próximos. Novamente denuncia a extreita ligação familiar e pessoal entre ambos. Desde pequenos infantes a atração era inegável entre eles. Promessas familiares de seus genitores quanto à união dos mesmos até fora feita quando dos momentos sociais onde os mesmo se faziam presentes... Bonito não? Ensaiaram tudo isso na juventude. A troca de energia entre ambos de maneira intensa que só os mesmos compreendem os mantiveram unidos pel'alma apesar dos obstáculos traiçoeiros que o destino lhes apresentara. E é neste ato presente que a história sai do preto e branco para entrar num colorido só... De sonhos, promessas, desejos e atos... Ah... atos... atos que a hipocrisia humana condenaria sem dúvidas nenhuma... E que Tião me pede reserva. Permite apenas que eu diga.

Amor... Troca de energia... Tudo muito intensamente... Intensamente de tal forma que ninguém compreenderia... Só mesmo Tião e Fulô. 

Secando o rosto, não por que acabara a tristeza mas sim talvez o líquido salgado. Ele diz: Por hoje basta! Já sofri bastante. Amanhã reviverei... Se Deus quiser e permitir...

Tenho dito... E sempre!!!

Manuel de Jesus