Na Palma,
em casas humildes,
vi mães sentadas entre os filhos
e a seu lado palhas de carnaubeira,
maduras, tingidas e
corretamente riscadas.
Daquelas palhas,
de suas sofridas mãos
movidas pela necessidade,
surgiria uma obra.
A artesã
pega da primeira palha,
entrelaça com outra e outras mais,
e com a rapidez e precisão de um tear
tece a partida.
Palhas são acrescentadas,
seguindo a ordem estabelecida
e os dedos começam a vibrar
num rápido e síncrono movimento.
Colocando mais palhas,
seguidas de mais vibrações,
já se define a copa...
Chora o recém-nascido,
tá na hora do mingau,
a mãe vai ao fogão
e quando volta,
Coloca mais palha,
e começa a tecer aba.
Termina a aba,
puxa a aba para cá e para lá,
corrigindo sua forma
e inicia os arremates,
virando as pontas das palhas
e dando pequenos nós.
Corta as sobras, põe na forma,
passa o ferro de engomar,
tira qualquer defeito
e pronto esta a obra,
um chapéu de palha,
que vendia ou trocava
por comida no comercio.
O comerciante
revendia a um atravessador,
que revendia ao exportador,
que exportando
aumentava sua fortuna,
enquanto a artesã sem opção
continuava a fazer chapéu.
Bem longe,
em terras que a artesã desconhecia,
o chapéu era tratado,
exposto em chiques lojas
e adquirido por quem almejasse
um toque na elegância.
Porém,
como tudo tem seu tempo,
a demanda por chapéu passou,
sem ela caíram os preços,
obrigando a artesã
a inventar uma outra obra,
pois,
se continuasse a fazer chapéu,
iria de pobre a miserável.
Wilson Belchior
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