sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

DEVAGARZINHO, A GENTE CHEGA DEPRESSA

Lembro-me perfeitamente da época em que eu trabalhava na bodega de meu pai, juntamente com meu irmão Gerôncio, entre a segunda metade dos anos de 1980 e começo dos anos de 1990, no “Rabo da Gata”, na sede de Coreaú.

Eram muitos os fregueses, sobretudo constituídos por gente simples do interior do município, que vinham de várias localidades, como Malhada Vermelha, Alto dos Ximenes, Cunhaçu Velho, Cunhaçu dos Sales, Raposa, Boiadas, São Vicente, Lagoa do Mato, Corredores etc. Porém, havia aqueles compradores da própria Rua de Baixo (Rabo da Gata), a exemplo das pessoas de Antônio Bilé e dona Zali, Chico Martins e dona Levi, Antônio Conrado e dona Fransquinha, Antônio Ludovico e dona Franci, Creci e Neoci do Chico Doca, Neném Amaral, enfim, quase todos os moradores da sobredita rua.

Naquele período, comprávamos ovos de galinha à caipira, chapéus de palha, algodão, castanha de caju, peles de criações (couros de bode, cabra, carneiro, ovelha) dos clientes das localidades mencionadas, os quais, com o dinheiro arrecadado realizavam suas compras. Nalgumas oportunidades, ficavam ainda nos devendo, sendo certo que fazíamos anotações em cadernetas (ou em cadernos mesmo), valendo destacar que todos ou quase todos honravam com seus compromissos e agiam com estrita honestidade, inobstante as dificuldades por que passavam em dado momento.

Quando meu pai - experiente que era no comércio – percebia que um dado freguês nosso não estava mais podendo pagar uma conta antiga, pois vultosa ficara, ele chamava o devedor e lhe dizia que podia ficar comprando à vista e, num momento futuro, receberia sem o impacto de juros aquele débito anterior.

Por muitas vezes nos deparávamos com o movimento da bodega “fraco”, e eu me punha a reclamar. Dizia que iria abandonar o ramo do comércio e seguiria a carreira estudantil. O senhor Antônio Conrado, freguês e morador da Rua de Baixo, depois do almoço, amiúde vinha conversar comigo. Fumando seu cigarro “Belmont”, de pé, escorava a sola de um dos pés na quina do portão da bodega, e dizia “Fernando, calma. Devagarzinho, a gente chega depressa”.

O senhor Antônio Conrado me falou isso inúmeras vezes, a ponto, claro, de eu nunca me ter esquecido.

Larguei a atividade comercial depois de pensar bastante e adentrei no mundo dos estudos, transformando-me, com o passar dos anos, em servidor público e professor, atividades laborais das quais me orgulho, e as quais me felicitam. 

Assim, ficou a lição do senhor Antônio Conrado: com calma, paciência e persistência, ou seja, DEVAGARZINHO, atingimos nossos objetivos e realizamos, consequentemente, nossos mais distantes propósitos, enfim, acabamos chegando DEPRESSA. 

FERNANDO MACHADO ALBUQUERQUE
Membro da Academia Palmense de Letras (APL)
Professor e Técnico Judiciário
Coreaú-CE

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