Era o fim do ano de 1974, em uma bucólica e tranquila cidade do interior do Ceará, em que certa aluna pediu desesperadamente ajuda aos colegas de classe para não ficar reprovada, pois precisaria de nada menos que a nota 10 (dez) em matemática; isso mesmo, dez ou nada, e concluir o curso ginasial (1.º Grau). Dizia que queria ser professora. Ela mesma nunca tinha tirado um dez em matéria alguma, salvo ensino religioso.
Alguns prometeram ajudá-la, mas sem qualquer garantia, pois era muito arriscado para os envolvidos no destrambelhado plano, e o professor era muito respeitado, atento e rigoroso.
Chegou o Dia D, isto é, o dia da temida prova, e a necessitada, diga-se: a aluna que precisava de nota dez na prova final para não ficar para traz repetindo o ano, muito nervosa, renovou e implorou mais uma vez o seu pedido de ajuda aos colegas da turma e confiança no alcance do desiderato para realizar o seu sonho, ao tempo em que todos colaboraram desde cedo na localização estratégica de cada um em sua carteira na sala de aula. Nada podia ou deveria dar errado, pois seria uma catástrofe, um desastre pelo resto da vida daqueles adolescentes envolvidos na trama, diga-se, no socorro irregular. O assunto da prova era toda a matéria ministrada durante todo aquele ano corrente. Uma missão quase impossível. A prova tinha 7 (sete) questões, em que o aluno podia escolher cinco para resolver, cada uma valendo 2 (dois) pontos e duração de uma hora.
Começada a prova, e uma a uma das respostas das questões foram repassadas para a colegial, que, ávida e com muita ansiedade, as copiava em sua folha de prova, querendo muito e primeiro resolver o seu difícil problema. E tudo isso foi feito perante o professor, vigilante e permanente o tempo todo na sala de aula sem sequer desconfiar de nada, pois não lhe fora dado nenhuma oportunidade de observar qualquer fato estranho ou fora do normal durante a realização da prova, tudo muito discreto, tranquilo e silencioso, não sendo registrado nenhum incidente naquele dia. Se houve desconfiança de alguma coisa, só se foi durante a correção das provas. Essa informação não pode ser confirmada, obviamente. Aí já era tarde. Ainda bem, teria dito a turma e a beneficiária.
Passados alguns dias, e publicado o resultado da prova, havia pouquíssimas nota 10 (dez) na relação com cerca de trinta alunos colocada no mural do colégio, entre elas a da aluna que precisava do dez para passar de ano, e fazer a Escola Normal. Não se tem notícia se realmente essa aluna seguiu a carreira de professora.
Moral da história: mesmo por via oblíqua, a união faz a força, e o que era quase impossível tornou-se possível e realizado.
De Boa Vista/RR para Coreaú/CE, 25 de janeiro de 2014.
Cosmo Carvalho
Engenheiro e Advogado
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