Tentando fugir um pouco da iminente barulheira dos pancadões, que é de praxe no período da Semana Santa na cidade, debandei para o sertão, juntamente com meu filho Francisco, minha mãe Margarida e sua secretária Tereza. Céu nublado, terra molhada, vegetação exuberantemente verde, cheiro de mato e o belo cantarolar dos pássaros. Infelizmente já não temos mais a presença física do nosso querido pai, Domingos, e do irmão Antônio. Uma grande lacuna...
Não foi propriamente uma viagem de lazer, mas sim de reflexão e um pouco de trabalho, pois nossa casa é muito antiga e precisa ser preservada. Fiz pequenos reparos no piso do grande alpendre que dá uma visão bem ampla e privilegiada de toda a Serra da Meruoca até a Serra do Rosário. Enquanto isso, meu filho aproveita para jogar uma pelada no pátio com seus amigos.
Sempre após o almoço, uma rede atada na sala ou no alpendre cai bem. Enquanto o sono não bate, vêm-me aqueles pensamentos do passado. Bons tempos aqueles em que se reunia toda família: filhos, genros, noras, netos e amigos. Papai e mamãe nos acolhiam com todo carinho e alegria. O alpendre da casa ficava repleto de cadeiras e redes, suporte ideal para uma boa prosa e uma soneca relaxante. Pelo rádio, acompanhávamos a Paixão de Cristo. Sempre seguimos os preceitos dos Dias Grandes: jejum, abstinência e oração. A criançada, inquieta e curiosa, não parava em casa, saía para desbravar os campos, tomar banho nas grotas, correr, jogar bola, andar de jumento, dentre outras peripécias. Atualmente já são adolescentes, jovens, adultos, cada um seguindo seu rumo através dos estudos. Outros nos deixaram de forma precoce.
Enfim, o sono chegou e, depois de alguns minutos, acordei com a harmoniosa sinfonia de uma chuva fina no telhado. E a vida continua, na perspectiva de que cada geração vivencie seus bons momentos no seio da família e construa valores positivos para uma sociedade mais fraterna e humana.
Raimundo Eliano Albuquerque
Membro da APL
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