sábado, 31 de maio de 2014

CAÇA E PESCA


Zé Mago e Taboca foram pescar. Na bicicleta surrada seguiram rumo ao açude do Cunhassu. Atravessaram o rio na canoa de seu Valto, pararam um instante no regato cheio, cruzaram o açude do Meio, o campo do Raimundo Abílio, o Pereirão frondoso... Quase ao anoitecer, chegaram na porteira de seu Tarcísio. 
Bateram palmas, mas ninguém respondeu. 
– Ó de casa?! 
O único som que ouviram foi o das galinhas e dos perus no quintal. 
Seu Tarcísio, a mulher e os oito meninos tinham ido à rua para a missa da Semana Santa. 
Com a casa de apoio fechada, os pescadores não poderiam pernoitar no Cunhassu. Dormir ao relento era coisa para pescador antigo. O jeito era bater água até a lua clarear e ir embora logo em seguida. 
Armaram as redes, percorreram o açude em câmaras de ar, bateram na água com varas de pau para acuar os peixes, esperaram meia hora...
Apesar da disposição dos pescadores, a pouca experiência de ambos, o vento forte e o claro da lua tornaram a pescaria um trabalho vão. Depois de três tentativas, não conseguiram nada para além de uma curimatã e um piau miúdo. 
Refizeram desapontados seus petrechos e, já prontos para regressarem à rua, acorreu a Zé Mago a ideia de não voltar para casa com um único piau de uma empreitada tão árdua. 
Sem que Taboca percebesse, Zé pulou a cerca do quintal de seu Tarcísio e, com pouco, reapareceu com duas galinhas nas mãos. 
Acocorou-se na beira d'água, quebrou-lhes os pescoços e as despenou ali mesmo, para espanto de Taboca.
Acomodadas as aves no garajau, os amigos partiram confiantes rumo à Palma, depois de combinarem que cada um ficaria com uma galinha e um peixe. 
A viagem de regresso seguia tranquila até que os pescadores esbarraram na estrada com seu Tarcísio, que vinha com a família de volta da missa. 
– Oba, meu amigo Taboca! De onde vocês vêm? Perguntou seu Tarcísio. 
Antes de Taboca responder, Zé Mago atalhou às pressas: 
– A gente estava caçando pra cá do Araquém, seu Tarcísio. 
– Ah, e essas galinhas no cesto?! 
– Não, seu Tarcísio, são duas nambus! 
– Nambu?! Desse tamanho?! Nunca tinha visto! 
– É que são nambu zabelê, seu Tarcísio! 
Zé Mago sabia que nambu zabelê era ave de mata muito distante, mas a despista improvisada pareceu convencer seu Tarcísio, que se despediu animado e seguiu confiante sua caminhada, para alívio dos pescadores.

Eliton Meneses

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