sexta-feira, 23 de maio de 2014

DONA TEREZINHA, MINHA PRIMEIRA PROFESSORA



No ano de 1976, eu tive a oportunidade de ser alfabetizado, informalmente, pela professora Terezinha, filha do senhor Valdemar.
Seu Valdemar, casado com dona Maria, morava em uma casa que fica na esquina da Rua dos Boeiros com a Rua Dr. Manuel de França, ali bem perto da antiga Cadeia Pública, onde funcionou a Rádio Princesa do Vale FM. Era também o pai do Otávio da dona Nega (que era o chefe da "Coletoria da cidade" – um cargo semelhante ao atual Auditor Fiscal da SEFAZ-CE), do Valtinho da Canoa, do Evangelista (comerciante) e da dona Aparecida (esposa do Domingos da Barra). 
De início, relutei em ir pela primeira vez à aula da professora Terezinha. Talvez por acanhamento ou por medo de enfrentar novas situações. Minha mãe me deu lápis, borracha e uma cartilha chamada Cartilha ABC. A professora Terezinha alfabetizava várias crianças. As aulas ocorriam no prédio onde hoje é o comércio do senhor Evangelista, na Rua Dr. Manuel de França. Ela fazia uso, quando necessário, da famosa palmatória; no entanto, nunca recebi dela os castigos da época, pois era quieto e estudioso. Minha mochila escolar era uma embalagem de plástico, de biscoito "cream-cracker" vazia. Eram muitos os colegas de classe. Eu tinha que acordar cedinho. Enquanto a professora não vinha, em frente à "casa de alfabetização", a gente ficava brincando de bila (bola de gude) ou de bola. 
Lembro-me, por demais, do amigo de sala, de apelido Xoxita, filho da dona Terta, que morava vizinho à casa do senhor Raimundo Paredão, lá na Rua do Peão. Raimundo Paredão, por seu turno, era o pai do Cabral e do Baigon. Homem trabalhador, motorista exímio, que dirigia o caminhão do seu Zeca Totonho (ou do Luiz Totonho). Sempre levava carradas e mais carradas de algodão a Sobral. Xoxita era meio esquálido, canhoto, cabelos encaracolados. Era um menino bom. Nunca mais o vi e nunca mais tive notícias dele. 
Depois de aprender a ler e a escrever, bem como de realizar algumas "contas" de matemática, principalmente cálculos de tabuada, a criançada era considerada apta e ingressava na escola formal. Comigo deu bom. O meu processo de alfabetização foi tão rápido, mas tão ligeiro mesmo, que meus pais me matricularam logo no "Grupo Vilebaldo", na 2.ª série inicial, ou seja, sem a necessidade de fazer a 1.ª série.
Foi, então, graças à professora Terezinha do senhor Valdemar que eu, menino tímido e retraído, ingressei no mundo da leitura, do saber escolar. Concluí o 1.º Grau todinho no Grupo (Escola Vilebaldo Aguiar). Minha farda era um par de tênis, tipo conga, meia branca, calça comprida azul e camisa de tecido branca com o logotipo da escola. 
Terminado o 1.º Grau (Ensino Fundamental), estudei em seguida na Escola Normal Nossa Senhora da Piedade, de 1983 até 1986. Hoje sou professor da Escola de Ensino Médio Vilebaldo Aguiar, o antigo "Grupo", de onde, como disse, fui aluno por muito tempo. Também já lecionei na Escola Normal Nossa Senhora da Piedade, já extinta.
Quantas lembranças gostosas! Velhos tempos que não voltam mais!
Depois, eu conto mais. 

Coreaú-CE, 23 de maio de 2014.

Fernando Machado Albuquerque
Professor
Membro da APL 

4 comentários:

  1. Cronica memorialista magistral! Impregnada de lirismo e de ilustres personagens que povoaram o imaginário da nossa infância na Palma! Parabéns, Fernando!

    ResponderExcluir
  2. Realmente muito lirismo. A descrição dos Personagens comove quem os conheceu. O Seu Valdemarzinho, o Evagelista, puxa vida, faz tempo não o vejo. Fiquei comovido meu confrade Fernando Machado Albuquerque.
    Galba Gomes

    ResponderExcluir
  3. enquanto isso nos dias atuais demagogia, digo... digo... pedagogia exige maternais, jardins e tantos outros trololós para se chegar á primeira série sabendo apenas a riscar papel, fazer bonecos com massa de modelar e por aí vai...

    ResponderExcluir
  4. Foi minha professora, ajudou muito melhorar meus estudos, era uma aula reforço, mas com muita responsabilidade.

    ResponderExcluir