Eram idos do início dos anos da década de LXXX, numa bucólica e tranquila cidade do interior cearense, quando dois primos começaram a namorar. Ele, já universitário prestes a concluir o curso superior na Academia da capital. Ela, estudante normalista, e muitos sonhos na cabeça. Bonita, inteligente, personalidade forte, orgulhosa e sempre de nariz empinado. Tinha uma pele cor de jambo, uma morenidade de causar inveja a qualquer moça do lugar naquela época, e, por que não dizer, certamente provocava interesse de outros rapazes. As pessoas do bairro onde ela morava comentavam a beleza e as qualidades da moça. Naquela época era namoro de sala, na casa da família da jovem e na presença da família (pais e irmandade), inclusive com horário pra começar e terminar. Hoje essas coisas são muito diferentes, mesmo.
O namoro (sério) ia muito bem, pois ambos se "guardavam" e levavam a sério os estudos, e a paixão era oxigenada quando os "pombinhos" se reencontravam nas férias e feriados prolongados (carnaval, semana santa e festas de fim de ano), por ser emocionante e prazeroso, coisa de família tradicional mesmo, que matava literalmente a saudade e afastava a distância entre os enamorados, coisa de paixão de adolescentes.
As famílias de ambos eram relativamente grande, e a garota tinha uma irmã casada que morava em Fortaleza.
No entanto, inesperadamente, numa das noites de visita de namoro, a menina meio que colocou "a faca nos peitos" do namorado e exigiu um compromisso sério e pra valer o quanto antes. O rapaz não se fez de rogado, ponderou e disse que gostava muito dela, de verdade, e que pretendia se casar com ela, informando aos seus pais, mas era preciso aguardar um pouco, dar tempo ao tempo, pois ambos ainda eram estudantes e como iriam viver e se manter se ambas as famílias eram arremediadas, de poucas posses? A menina não aceitou as razões do seu primo-namorado (e não foi porque já teria outro na fila ou a vista, não). Ela queria logo era sair da casa dos pais e ter seu próprio lar e vida própria, independente, mas o namorado ainda não tinha condições de propiciar o mínimo necessário para viverem com dignidade, vez que, como já dito, eram estudantes na época, e o Ceará e o Brasil enfrentavam grande crise econômica (inflação alta, desemprego crescente, descrença internacional, dívidas e empréstimos com o FMI, Banco Mundial, Clube de Paris etc.).
Mas, porém, contudo, todavia, senão e no entanto, não teve jeito mesmo. A menina estava realmente decidida a mudar o quanto antes a sua vida, e pouco tempo depois de concluir o Normal, e sem conseguir emprego na sua terra natal, partiu para a capital, sendo acolhida por sua irmã. Lá arranjou emprego e conheceu novas pessoas, casou-se e tornou-se evangélica (Pastora).
Quanto ao rapaz, concluiu o ensino superior na Academia e logo em seguida conheceu uma nova namorada (fora da família), em outra cidade do interior cearense, e, como o velho e sábio ditado: "quem espera por tempo ruim é lajeiro", por necessidade profissional e projeto de vida, deixou temporariamente a sua nova amada e partiu, ganhou o Brasil de meu Deus para encontrar boa acolhida (trabalho, reconhecimento, valorização, sombra e água fresca e novos amigos). Também constituiu a sua família com essa garota fora da família, que deixou o seu emprego e estudos no Ceará para seguir o seu amado esposo, reconstruindo tudo ainda melhor no novo lugar.
Certamente o destino assim quis, e os primos, que ficaram bons amigos desde aquela época do rompimento, e mais ainda, apesar de três décadas passadas, anota o rapaz, esse mesmo destino ainda não foi capaz de possibilitar o reencontro dos primos.
Não há dúvidas de que aquela cobrança foi um divisor de águas, de destinos e de vidas.
Cosmo Carvalho
Membro da APL
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