Na zona norte do Ceará existia muitos comboieiros nas décadas de 1950,60,70 e 80. Geralmente partiam da serra e do sertão para a praia. Existiam também os que se deslocavam do sertão para a serra. Quem partia da serra para a praia levava rapadura,mel, cachaça, bolo manzape,batida, polpa de frutas, etc. Da praia traziam basicamente farinha e peixe. Faziam o que hoje fazem os caminhoneiros. Nas cidades costumavam parar. Ali alimentavam-se, alimentavam os animais (jumentos e burros),faziam negócios rápidos, conversavam entre si e com a população e compravam víveres. Depois, sob o estalar das macacas, a tropa era tocada. Tomava o caminho da lida!
SOB O ESTALO DA MACACA
A macaca usada pelos comboieiros era feita de corda grossa, em geral, relho (couro de boi, cru). Era longa, tinha cabo curto e na ponta uma pequena tira de corda de tucum. A chicotada doía uma barbaridade. Um estalo forte, um toque no animal e o coitado saía, atravessado, se vendo de dor. Muita gente "botava sentido" naquela arrumação. Mas fazer o quê ? Se falasse pegava carão do comboieiro, geralmente um homem muito trabalhador, mas muito rude.
COMBOIEIROS: VIDA ÁRDUA!
Os homens da macaca tinham vida dura. Passavam até dois meses fora de casa. Na retaguarda ficavam a mulher (ou mãe) e os filhos. Todos sentiam saudade."É de cortar coração!". Mas sabiam que, no final da viagem, aqueles homens tinham um bom descanço e, quem sabe, até poderiam abrir um roçado, uma pequena broca. A fartura de peixe e farinha cheirosa vinha em sacos de palha de carnaúba, chamados surrões. Não usavam os cestos de tiras de galhos, chamados grajaus. A família tinha um bom tempo para acabar com aqueles produtos tão desejados. Quando estava chegando o fim da abundância, lá se iam os homens de novo, para nova viagem pesada. A saudade chegava antes!
João Teles de Aguiar
Membro da APL
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