Quem tu achas que estás enforcando, ó carrasco?
Tiradentes?!
Pois saibas que esquartejas a República e fundes os grilhões da louca Dona Maria!
Estás, sem êxito, calando o grito de liberdade, desviando os ventos da mudança... Mas eles virão, são como as nuvens, tomam novas formas, embora aparentemente passageiras!
E tu, Silvério... Quem tu achas que estás traindo?
Não sabes, ó venal Judas da Inconfidência, que a tua delação é a voz que condena o Brasil ao “quinto” dos infernos...?
Soldados... Em quem estais atirando neste sangrento domingo russo?
Acaso sabeis que estão matando vossos irmãos, compatriotas, que lutam contra a fome, a violência, o autoritarismo deste desgoverno despótico que patrocina a miséria!
Soldados... Lutai contra o opressor, e não contra o oprimido!
Glória aos que foram à floresta porque não temeram aos “lobos”!
Glória a Lenin!
Glória ao povo!
E tu, capitão-do-mato... Por que matas a tantos irmãos da Mãe África? Se a força que corre na tua veia é o rubro sangue daquele chão negro?
Não sabes que também estás destribalizado, com a memória dilacerada no tronco e nas algemas desta vil escravidão? Não sejas covarde, insensato e traidor!
Não te enganes, és apenas um ludibriado serviçal do senhor da Casa Grande... a tua senzala! E no infeliz dia em que não servi-lo mais, ah, servo da insanidade, verás no tronco, em letras grandes, a tua sentença e ele te servirá de refúgio, nas horas que tua consciência falar:
- Quantos de meus irmãos prendi neste tronco atroz e os atirei na fétida senzala!
E dirá mais ainda:
- “Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...”.
Do sangue que derramaste serás co-artífice do horror e do elogio à loucura!
Ó povo... Por que estás fazendo a Revolução, derrubando a bastilha, este antro de tortura, esta cruel prisão?
Pois bem... Depois a burguesia amiga, ávida pelo vil metal, passará de perseguida a perseguidora!!
Ou tens a burguesia como companheira de combate?
Ela matará o nobre, mas também esmagará o servo que luta por terra e pão!
Derrubará o primeiro Estado, e matará também o primeiro que levantar armas contra o selvagem capitalismo e a todos que lhe disser: - Não!
Essa nova ordem e seus revolucionários, iluminados homens, trocarão o direito divino de nascimento pelo “divino” direito do dinheiro... É ter para ser!
Agora, a história é outra...!
Esses míseros homens das fornalhas, das máquinas e da Revolução dirão:
“Operários de todo mundo, uni-vos!”
A aburguesada revolução devorou seus filhos, aniquilou seus pares! Onde está Robespierre, com seus inflamados discursos? Danton? E o incendiário Marat?
Por ironia do destino, foram à Navalha Nacional!
E os direitos do homem, tão bem redigidos?!
- Diluiu-se em sangue...!
Os filhos da revolução devorados pela própria mãe....! Os fingidos burgueses queriam ascensão... E o povo...? - “que coma brioche!!”
- Que deboche!!
Cuidado, companheiro, assim é o motor da história.
Nos “Versos Íntimos” da poesia, “atrás de portas fechadas”, alguém diz:
- “O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.”
Assim foi Judas... Que por umas míseras moedas vendeu sua honra (se é que tinha).
Assim foi Silvério... Que por meras conveniências levou o sonho republicano ao cadafalso! Que falso...!
E a história se repete noutros palcos, com outros personagens... a trama e o enredo, porém, nada mudou!
- Ah! Liberdade, Igualdade e Fraternidade, aonde andas?
A história é dádiva da traição! E no fechar das cortinas sagram-se casamentos arranjados..., frutos de esdrúxulos acordos politiqueiros!
A história se faz no motor das conveniências, movida pelo jogo de interesses escusos, no ludibrio da falsidade e da ânsia pelo poder!
Davi Portela
Membro da APL
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