Hoje o dia está triste. Não. Não é mais um dia triste dos quais já vivi, mas está sendo o pior dia da minha longa vida solitária. Neste cruzamento moro há anos e sempre presencio as mesmas coisas diariamente: carros vêm, carros vão e todos com uma educação zero, pois sempre estão fazendo muito barulho.
Ah! Qual é a minha função?
Informar aos carros a hora de parar, em seguida adverti-los que prossigam o seu caminho, depois volto a soltar fogo pelos meus olhos para que esses barulhentos parem novamente.
Imaginem fazer o mesmo sempre, que chatice, hem! O que me salva são as árvores que moram nos canteiros das grandes avenidas. Porém, passam pela minha mesma situação: solidão, vazio, o nada. Elas ainda sofrem com a liberação dos fumos das descargas dos carros. Isso me faz sofrer duplamente, ou seja, por mim e por elas.
Muitas dessas árvores são assassinadas e esquartejadas para satisfazer os caprichos dos homens, com a desculpa de deixar a cidade mais bonita e o trânsito mais rápido.
As árvores são as minhas únicas companheiras da solidão que compartilhamos, porém há momentos que uma folha é levada pelo vento até os meus olhos que chega a me incomodar, mas não me zango, pois sei que faz parte do ciclo de vida delas.
Amigos, imaginem em um domingo ou em um feriado o quanto o vazio, a solidão aumentam, pois não consigo ver um carro passar fazendo barulho, um homem mexendo com as árvores, apenas sinto o vento passar e balançar as folhas das minhas únicas companheiras.
Vivo para o nada passar. Assim viverei até a morte me alcançar, pena que sofre com a tal longevidade. Já estou no desespero clamando ao amigo, se assim posso chamá-lo, ferrugem que me leve o quanto antes. Só assim o meu sofrimento será extinto e poderei voltar às minhas origens: o nada, o vazio.
Jesus Frota Ximenes
Nenhum comentário:
Postar um comentário