segunda-feira, 3 de março de 2014

MÁSCARA


No canto do quarto, sentado sozinho, 
Repara no espelho um desfile passar: 
Os sonhos se foram num redemoinho, 
Não há mais menino no rio a brincar. 

Foi falsa esperança, velhaco adivinho: 
Não basta o sereno p'ra terra invernar. 
O logro não veio, o agora é mesquinho; 
O porvir segue ainda uma tela a pintar. 

Na larga avenida, desce em desalinho 
O bloco mambembe, num lento pisar. 
Esgueira-se entre a poeira e o espinho, 
A máscara que ensaia seu tosco cantar. 

No galho lá fora, canta o passarinho: 
A vida se espraia p'ra além do espiar. 
Há rastro escuso no longo caminho, 
Oposto ao destino que intenta chegar. 

Éliton Meneses

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