sábado, 31 de agosto de 2013

EI DE FAZER


Ei de ver formosa a minha terra:
Verde claro, rosa, em seus serrotes;
Luzir do rio, crianças em magotes,
Ante a união que o amor encerra.

Ei de ver o recriar-se de uma aurora,
Tendo em via a renovação,
Partilhar com outros a mudança-ação;
E sorrir, menino, ao chegar da hora.

Ei, e sei que ei efetivamente,
De erguer meu braço e a minha voz
Junto a irmãos, lutarmos nós.

Ei de saber, pobre, inclemente,
Que nem tudo há de ser vitória,
Mas no pequeno que se faz história.

Benedito Gomes Rodrigues

AONDE VOCÊ QUER CHEGAR?


Aonde você quer chegar? 
Com o traseiro sentado na poltrona 
E a boca aberta para o ar! 
Se você não lê o que eu escrevo, 
Nem me revela o que tem a falar! 
Aonde você quer chegar? 
No cume alvo do Himalaia, 
Ou nas fossas sombrias do mar? 
Se há um rio caudaloso a ser cruzado, 
Mas não há ponte nem você sabe nadar. 
Aonde você quer chegar? 
Sem um livro para ler do seu lado, 
Sem uma mão amiga a lhe consolar. 
Se os seus amores estão distantes, 
E as pessoas do lado esqueceu de amar. 
Aonde você quer chegar? 
Se o vento lhe leva como uma folha, 
E a sorte não lhe resolveu bafejar. 
Se a vida é uma estrada de sonhos, 
E lhe falta a coragem de caminhar. 
Aonde você quer chegar? 
Se você não estende a mão amiga, 
E a alheia miséria lhe faz gargalhar. 
Se você se esconde da tempestade, 
E se ufana quando começa a clarear. 
Aonde você quer chegar? 
Se não engana sequer a si mesmo, 
A quem mais você pensa enganar? 
Se a um passo encontra o abismo, 
E o paraíso é tão difícil encontrar! 
Aonde você quer chegar? 
Se a vida não foi o sonho de criança, 
E o tempo não lhe permite mais voltar. 
Se não conseguiu melhorar o mundo, 
Ao menos a si mesmo procure mudar! 

Eliton Meneses

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

NA SOCIEDADE

Os homens gritam,
As mulheres choram,
Os meninos devoram,
As garotas gostam,

As famílias brilham,
Os vizinhos oram,
Os amigos molham,
Os parentes apavoram,

Os professores aplaudem,
Os patrões adoram,
Os outros invejam

A alegria de uns,
A tristeza de alguns
E a inveja de outros.

Jesus Frota Ximenes

POESIA, TEMPO E IRONIA

Perdi o encanto por tê-la recusado,
A mensagem que hoje dorme à escrivaninha.
Larguei-a ao léu do frio, inconformado,
Contudo, não larguei a angústia minha.

E com o tempo que a tudo consome,
Repartiu-se pobremente meu amor.
Na palavra não havia mais meu nome;
Esvaiu-se por completo meu labor.

Tal tristeza carregava a poesia.
Eu, teimoso, cultivei-a, salutar.
Maltrapilhos versos do passado.

Porém, houve o dia de lembrar,
Rebusquei-os no fundo empoeirado,
O invés de preces à humana ironia.

Benedito Gomes Rodrigues

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

ESCREVER

O que escrevo?
O que não tenho
Solidão é escrita
Fruto do vazio.

Escrevo o descontentar
Que sai do pensamento
Trazendo o sofrer
Aumentando o rebento.

Escrever é choro
Que traz a escrita
Pra vagar no mundo.

Escrever é resgate
Que faz o existir
Falar por si.

Jesus Frota Ximenes

MENOS QUE O PÓ, MAS TÃO GRANDE

Agressivo!
Grito incontido
Palavra inconteste
Nada me arrepende mais
Que a palavra que ficou pra trás
E, ela, adeus-e-mar,
Repetiu-se
Inúmeras
E soturnas
Vezes solilóquias
Comigo
Nas noites em que perdi
E pior
Nas noites em que dormi
Com elas.

Nunca pensei que valessem tanto
Mas provei da pior forma
O sabor amargo das palavras
E, entretanto, teimo em proferi-las
Talvez porque me engane ao pensar-me sábio
Talvez porque tenha certeza que da próxima vez
Será diferente
E, de fato, o será
Até pior
E mais obscuro o nó
Que me causam
No qual me amarro
Voluntariamente
Evidentemente
O tempo passará
E as palavras valerão
Bem menos
Que o pó
Que suja minha camisa.

Mínimo pó
Que atormenta meu sono.

Benedito Gomes Rodrigues
Membro da APL

terça-feira, 27 de agosto de 2013

AMOR EM FLOR



Minha terra tem palmeiras?
Não! Minha terra tem amor! 
Onde a felicidade reina;
Uma terra de amor em flor. 
Flores da humana beleza; 
Na relva de suave frescor;
Cultivo de rosa vermelha;
Um rio que corta sem dor; 
Amor eterno amor;
Com ele é que me salvo;
Com ele é que me guio;
Sem ele sou vaso sem flor;
Uma folha seca no vento;
Um arco-íris sem cor;
O que seria da vida,
Se não houvesse o amor?

Marinara Rodrigues
Rio de Janeiro/RJ

DELÍRIOS

Palavras não bem escritas,
Amor não correspondido,
Histórias cantadas, ditas
A um coração compreendido.

Numa estrada solitária
Vivo a caminhar perdido,
Em busca sempre contrária
Do meu grande amor vivido.

Estou a caminhar na dor:
Solidão do coração,
Para encontrar o meu amor.

Nos meus devaneios da vida
Vivo a vagar pela noite
Na esperança da partida.

Jesus Frota Ximenes

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

LUAR

Noite de luar
Embaixo do juá
Não quero brilhar
Quero é voar.

Luar do sertão
Sertão do coração
Coração da paixão
Paixão sem chão,

Quero ir pro rio
Pra sentir o frio
No bril do luar.

Pra ficar sozinho
Com o amorzinho
Na beira do riozin.

Jesus Frota Ximenes
Coreauense, mestrando em Literatura Comparada (UFC)

FICOU A FLOR

Não queria pisar na flor
Morta
Que estava ao caminho.

Queria passar direto
E esquecer sua existência
E não me martirizar por tê-la pisado.

Queria não pensar nesses detalhes
Que me remetem sofrimentos longínquos.

A flor mais viva que matei
Larguei ao caminho e fui
E a flor ficou.

Ficou mesmo sem que eu a tivesse trazido
Comigo.

Benedito Gomes Rodrigues
Membro da APL

domingo, 25 de agosto de 2013

Será amor?

E de repente me vi nos teus olhos.
Me vi na tua boa.
E não me encontrava, eu estava perdida no seu corpo.
E não queria mais nada, eu só queria você.

E mergulho na tua alma.
Chego a sair somente para morder os teus lábios.
E te desejo tanto que chego a perder os sentidos.
Eu quis escapar dos teus braços e me manter em segurança.

Me invade de uma forma esquisita, mas eu gosto.
E me desperta o desejo de ter só mais uma vez.
Eu te vi refletido na lua.
Eu te quis, só mais uma noite. Só mais uma noite.

E nas horas do riso, cobrou-se o carinho.
E nas horas do medo, o cuidado.
E nas horas de lágrimas, o consolo.
E nas horas de dúvida, um beijo.

E quando se viram um no outro disseram: E agora o que será?
E se olharam, e responderam um ao outro:
Somente o tempo revela os segredos de um pertencer,
Quem sabe essa forma estranha de te querer não seja enfim o que chamam de amor?

Rilna Barros
Acadêmica de Letras - UVA

PEDIDOS

Peça-me e te darei!

O que queres de mim?

Queres uma obra acabada?
Queres uma palavra amiga?
Queres um “sem-defeito”?
Queres um “sim!”?
Queres que suma?
Queres que diga o que queres?

O que exiges de mim?

Peça-me, peço-te!

Exige-me ser igual a ti?
Exige-me correspondência?
Exige-me humanidade?
Exige-me olhar humilde?
Exige-me submissão?

Não!

Nada do que tu pedes tenho.
Nem sempre, quero dizer.
Nem sempre seu discurso
Repetitivo
Sacia minha vontade de fazer
Com a vida e com você
O que bem quero.
Porque me exiges tanto
E mesmo assim suas exigências
São exíguas ante as minhas?

Benedito Gomes Rodrigues

SEMÁFORO

Hoje o dia está triste. Não. Não é mais um dia triste dos quais já vivi, mas está sendo o pior dia da minha longa vida solitária. Neste cruzamento moro há anos e sempre presencio as mesmas coisas diariamente: carros vêm, carros vão e todos com uma educação zero, pois sempre estão fazendo muito barulho.

Ah! Qual é a minha função?

Informar aos carros a hora de parar, em seguida adverti-los que prossigam o seu caminho, depois volto a soltar fogo pelos meus olhos para que esses barulhentos parem novamente.

Imaginem fazer o mesmo sempre, que chatice, hem! O que me salva são as árvores que moram nos canteiros das grandes avenidas. Porém, passam pela minha mesma situação: solidão, vazio, o nada. Elas ainda sofrem com a liberação dos fumos das descargas dos carros. Isso me faz sofrer duplamente, ou seja, por mim e por elas.

Muitas dessas árvores são assassinadas e esquartejadas para satisfazer os caprichos dos homens, com a desculpa de deixar a cidade mais bonita e o trânsito mais rápido.

As árvores são as minhas únicas companheiras da solidão que compartilhamos, porém há momentos que uma folha é levada pelo vento até os meus olhos que chega a me incomodar, mas não me zango, pois sei que faz parte do ciclo de vida delas.

Amigos, imaginem em um domingo ou em um feriado o quanto o vazio, a solidão aumentam, pois não consigo ver um carro passar fazendo barulho, um homem mexendo com as árvores, apenas sinto o vento passar e balançar as folhas das minhas únicas companheiras.

Vivo para o nada passar. Assim viverei até a morte me alcançar, pena que sofre com a tal longevidade. Já estou no desespero clamando ao amigo, se assim posso chamá-lo, ferrugem que me leve o quanto antes. Só assim o meu sofrimento será extinto e poderei voltar às minhas origens: o nada, o vazio. 

Jesus Frota Ximenes

DOM BENEDITO, O IDEALISTA DA EDUCAÇÃO COREAUENSE


Para gosto e felicidade de todos os coreauenses, nasceu a 24 de Agosto de 1928 o nosso querido e amado Dom Benedito. O nascimento de uma pessoa de espírito nobre e de grandes ideais culminou com feitos dos quais até hoje as gerações mais jovens são beneficiadas, a exemplo do Ginásio Municipal Nossa Senhora da Piedade. A referida instituição tem sido, ao longo da história da educação do Município de Coreaú, pioneira em oferecer educação básica de ensino fundamental (àquela época, anos 50, ensino elementar ou ginasial). 

Dom Benedito é e sempre foi um homem comprometido com as questões sociais e movido por esse compromisso utilizou-se de todo conhecimento e sabedoria que a vida lhe imprimiu para trabalhar em prol do bem comum. São frutos desse trabalho, além do Educandário Nossa Senhora da Piedade, a construção da Igreja de São Francisco e a fundação do Círculo Operário Rural de Coreaú, conforme registros do historiador e escritor Leonardo Pildas, em seu livro “História de Coreaú: 1702-2002”.

Por tudo isso, a data de hoje rende aos coreauenses muitos motivos para festejar o aniversário natalício de um homem que há 85 anos trouxe-nos a alegria de nascer na pequena cidade de Coreaú, então denominada Palma.

Parabéns, Dom Benedito, pelo trabalho e exemplo vivo de fé no homem e em Deus, elementos imprescindíveis naqueles que apostam no esforço de tornar esse mundo melhor. Sua trajetória de vida é um livro no qual muitas lições valiosas estão inscritas! Parabéns pela data festiva e que o Senhor Deus, nosso Pai Maior, cubra-lhe com as bênçãos da saúde, da longevidade e da vida plena! A gratidão sincera de todos que fazem a Escola Ginásio Municipal Nossa Senhora da Piedade, fruto doce de seu incansável trabalho!!! 

Davi Portela

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

SAUDADE DO MEU LUGAR



Minha terra, meu torrão. Família, amigos, recordação. Infância, adolescência; pureza e coração. Vilebaldo, praça da matriz. Que saudade da liberdade do meu torrão!
Eu quero voltar a bailar na discoteca do Lalau. Brincar de gata da turma e de bandeirinha; na missa, ao sábado, rezar. Reencontrar a paz no meu lugar.  
Aos domingos ver o Palma jogar; no Centro Comunitário dançar; ao som da radiadora namorar; na barragem tomar banho e no seu campinho jogar; no Chico Cristino merendar; com os festejos se animar.
Ai que saudade do meu lugar!
A pobreza era alegre, amiga e tinha pureza. Era saudável e gostava da vida e sonhava com um sonho que não foi realizado. 
Pegou o Frecheirinha do Chico Messias e partiu, levando para o mundo os meninos da Palma, sonhadores, deixando para trás muitos pais com aperto no coração.
A pureza não vai voltar, no coração do meu lugar, mas a juventude tem que lutar. A droga não pode marcar a história. De joelho fico a rezar, para que Nossa Senhora continue a nos abençoar.

Valder Albuquerque
Boa Vista/RR

sábado, 17 de agosto de 2013

SONHO

Os primeiros raios solares matutinos
surgem no horizonte e me tocam o espírito;
as rosas entrelaçam-se levemente,
exalando um aroma adocicado e tranquilo.

Agacho-me calmamente e apanho uma pedra,
jogo-a no rio, agitando aquele cenário outrora estático;
passo a fitar as trêmulas nuvens na água,
sendo invadido por um turbilhão de pensamentos.

Olho em volta e percebo a presença de algumas aves
que entoam um leve canto de alegria;
ao ritmo suave daqueles gorjeios,
acordo cansado no meio do dia.

Kelvis Albuquerque

SECA



I
Olho a terra e confesso que me assusto,
Com tamanha quentura e sequidão;
Morre o bicho de sede e morre a planta;
Seca o rio e as cacimbas e seca o chão.


II
Chego a hora a perder a esperança
De que o clima ainda vai melhorar;
Ergo as mãos e minhas preces para o céu,
Porque sei que a ajuda vem de lá.

III

Passo as noites e também eu passo os dias,
Perguntando a meu Deus o que fazer,
Pois plantar o que, na terra seca,
Com a certeza de que nada vai nascer?

IV
Por aqui já acabou toda a forragem;
O animal que era gordo emagreceu;
Meu riacho também esta secando;
Meu cachorro caçador também morreu.

V
Se o tempo por acaso não melhorar,
Ai meu Deus, te pergunto o que será de nós?
Ninguém sabe e nem sente as nossas dores;
Muito menos escuta a nossa voz.

VI

O marmeleiro a esta altura esta secando;
A carnaúba, todos sabem, já murchou;
O juá já esta todo madurando
E a folha do mufumbo amarelou.

VII

A formiga não estoca mais comida;
O pássaro só canta na madrugada;
O rangido da rã ninguém escuta
E o carão já não canta quase nada.

VIII

Mas, para o povo sofrido do nordeste,
Nada disso lhe tira a esperança,
Com seus ritos, sua fé e sua crença;
Para o ano o inverno ainda alcança.

Benedito Ramos ("Manchão")

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Merchandising de luz

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VIVA

Aprecie a vida
Por quem o beijou
Ame quem o amou
Beije sua amada.

Viva o presente
Prove o instante
Ame o montante
Viva o que sente.

Aprecie o tempo
Deixe que o vento
Leve o pensamento.

Viva o pequeno
Deixe o grande
Para o gigante.

Jesus Frota Ximenes
Sítio São Vicente

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

LOUCURA


Quando o levaram preso, 
Disseram que era um louco. 
Quando o fuzilaram, 
Disseram que era perigoso. 
E quando o crucificaram, 
Disseram que era um fanático. 
E por que ele era louco? 
Por que era perigoso? 
E por que era fanático? 
(...) Porque ele sussurrava, 
Mas também porque bradava. 
(...) Porque falava manso, 
E a plenos pulmões. 
Mas o que ele bradava? 
E o que sussurrava? 
(...) A verdade!!!

Eleumar Cordeiro

sábado, 3 de agosto de 2013

O VALOR DO SERTÃO

Pintura de Ignacio da Nega.

Meu sertão não tem valor
Que se meça em dinheiro
Pois de certo há de transpor
Num sentido verdadeiro
Toda medida de home
Que por si já se consome
Ao tentar lhe reduzir
Com a sua enganação
Erra em grande proporção
Empenhada em lhe medir.

Eis que a riqueza de cá
Não se traduz em metal
Pois lhe direi para já
Em que consiste o grau
É no riso sertanejo
Como um canto benfazejo
Duma fiel criatura
Que alegra o sertão
Apresentando a função
De louvar essa ventura.

Ventura que é também
Na festa da natureza
A que nos cria e mantém
Esbanjando a sua beleza
Ela está no passarinho
Tranquilo fazendo ninho
Que protege os filhotes
É na chuva de inverno
A mãe-terra em tom materno
Esbanjando os seus dotes.

Visto tudo o que disse
Embora seja bem pouco
Queria que me ouvisse
Nesse verso já tão rouco
Fazendo tal homenagem
Crio até uma coragem
De mais versos produzir
Tratando desse torrão
O qual amo de montão
E de onde não vou sair.

Benedito Gomes Rodrigues
Membro da APL

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

RESUMO DA OBRA "O QUINZE" EM POESIA

Os Retirantes, de Damião Martins.
Mil novecentos e quinze
Nordeste à seca enfrentou
Inspirada em tal desastre
“O Quinze” Raquel criou.

O romance tem dois planos
Duas famílias do sertão
Tem de Chico Bento e a
De Vicente e Conceição.

Apesar dos vinte e dois
Conceição sem se casar
Com seu primo, o Vicente
Não parava de sonhar.

Uma parte muito trágica
Vou agora lhes contar
Ocorreu com Chico Bento
Foi-lhe grande seu penar
Sua vida de vaqueiro
Obrigado a abandonar.

Durante o longo percurso
Deixando pra trás o Norte
Seu caçula se envenena
Com a mandioca forte
Era brava e estava crua
E o levou rumo à morte.

À frente com desespero
Viu uma cabra e foi matar
Mas logo apareceu dono
Pra o animal lhe tomar.

Léguas e léguas depois
Com muita tristeza e fome
Primogênito de Chico
Num comboio segue e some.

Chegam, enfim, ao destino
Campo de concentração
Chico é reconhecido
Pela prima Conceição.

Anjo por Deus enviado
Ajudou a Chico Bento
Conseguiu-lhe um emprego
E findou seu sofrimento.


Autoria: Claudene Teles
Revisão: Benedito G. Rodrigues

VÊNUS DE PEDRA



A fria moçoila, sentada na praça,
Olhava distante uma rua sem fim.
De rara beleza, talvez espanhola;
 Na tarde de sol, vestida em cetim.

 Vênus moderna e ensimesmada,  
Espraia fascínio por todo confim.
Idílica morena, coração de pedra;
Candura aparente de um serafim.

Fosso assombroso de indiferença;
Espinho elegante de morto jardim.
Encara com asco a mão do pedinte,
Embalde no peito a cruz de marfim.

Furtiva beldade, covil de soberba,
No palco da vida não há arlequim.
Antro inumano, sumiu contrafeita;
Do fruto somente a casca chinfrim.

Eliton Meneses
Membro da APL

IRREQUIETO FIDALGO

Que sentido vai dar
À vontade desmesurada
De atirar-te ao nada?
Que sentido vai dar?
Diga-me, por dever!
Não pude ver razão nisso!
A que equivale o risco
De viver por nada?
Diga-me, peço-te!
Extrapole a vontade
De falar do que há em ti
E perpasse o discurso
Decorado de aprendiz
Que fala por falar
Vive por viver
Corre por correr
Se finda por findar
E tudo em nada
Num único jogo
Sem resposta
Faço-te uma aposta
Diga-me, peço-te!
Por que queres viver?
Eu vivo por viver
E por fazer algo
Por ter o que fazer
Só nem sei bem o que
Disseram-me antes de vir
Que aqui nesse devir
Algo é preciso pra viver
E vivo à procura dalgo
Mero fidalgo finito
Sem muitas respostas
Até à tampa de perguntas
E inquietações.

Mas, diga-me:
Que sentido vai dar
Ao algo que queres ter?

Benedito Gomes Rodrigues
Membro da APL