A confecção textual supõe-se de um árduo trabalho intelectual que, por vezes, emerge como uma elaboração dos processos subjetivos vivenciados pelo sujeito, que encontra na arte da palavra as formas mais significativas de expressar seus sentimentos. O sujeito do texto encontra sua posição na oração acompanhado de seus predicados - dele se diz algo! Às vezes, o sujeito que se inscreve na malha textual é tão determinado que ficam explícitas suas ações. Ele fala das coisas da vida, do que viu e ouviu. Faz das histórias poesias e dos desencontros, uma crônica.
O sujeito-texto quando adornado pelos (as)tig(os)* de luxo expressa suas preferências de gênero, seja masculino ou feminino, atribuindo-lhe uma identidade singular ou plural. O palavrear serve de passatempo prescindido de um jogo de linguagem que sublima, condensa e deslocada seus desejos, medos e expectativas numa produção discursiva que caem em rimas, métricas e polifonizam os efeitos de sentido. O texto também tem seu tempo, uma vírgula, uma pausa, um ponto que sinaliza ou finaliza suas narrativas. Os significantes que deslizam sonorificando as palavras materializadas reverberando suas representações, ideias ou pensamentos inconscientes. O sujeito-objeto revela-nos que o real é inapreensível e que o sentido da aventura existencial da escrita é sempre um contexto.
A caneta, o lápis e o papel instrumentalizam o movimento da alma que se arrisca a bailar na fugaz dança da enunciação que dizendo o não-dito diz de si, do outro e do mundo. Os verbos, substantivos e adjetivos endossam as frases que numa singela oração entrançam suas ressonâncias. A tessitura textual vai ganhando contornos de estilos e formas de gêneros. O jogo simbólico encontra suas formas paleáveis nas metáforas e metonímias que em vez de significar equivoca-se em significantes, ou seja, as partes pelo todo. Assim, as palavras escapam, deslizam, materializam e sonorificam suas representações inconscientes que mesmo pronunciadas permanecem esquecidas onde o que aparece se desconhece.
Ao pé da letra germinam contos, crônicas e até romances que ensaiam, discorrem, narram uma peça, um drama, enfim, teatralizam o literalmente escrito. O autor é ator, artista, poeta, dramaturgo, crítico, sínico, filósofo, ou quem sabe, tudo o que a linguagem permite nomear e quando as palavras escaparem, estas não são mais do autor, elas são apenas, simplesmente, palavras.
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[*] A expressão “(as)tig(os)” é um jogo linguístico onde a sigla “TIG” Transtorno de identidade de Gênero aparece entre os artigos “a” e “o” no plural na própria palavra artigo referenciado a política de identidade de gênero. Sendo, portanto, a palavra gênero de sentido ambíguo.
Francisco Rogery Martins Santos Filho
Coreauense
Graduando em Psicologia - UFC
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