sábado, 28 de dezembro de 2013

O QUADRO QUE FUI

Fui ontem o quadro na parede da vovó,
coberto de poeira e desgastado pelos anos.
Uma foto preto e branco,
acinzentada e ruída pelas traças -
metade pintura, metade passado.

A moldura toda enferrujada, já sem brilho,
é o invólucro desta lembrança,
que se consumiu quase por inteiro -
viva frieza do que não volta!

Mas
eis que cresce,
ao canto do quadro,
a pequena casa de barro,
moldada parte a parte,
grão a grão de lama,
pela vespa do amanhã,
que deposita ao seu fundo
o seu filho.

E então
Vejo-me habitado, 
em minha morte,
pelo intruso tempo
que não pede permissão.

Benedito Gomes Rodrigues

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