No “início”, tudo era o mais “perturbador” silêncio;
Nenhuma “fagulha” era produzida;
Nenhuma “nota” era emitida;
Não existia e nem houve nenhum intuito de “criação”;
Nada fluía;
Nada a ser “observado”;
Ninguém estava lá naquele momento de “criação”, de “inspiração”;
Ninguém!
Ninguém presenciou aquela metamorfose;
A não ser o próprio “Nada”;
Ali em seu “trono”, o “Nada” reinava em perfeito equilíbrio;
Sem nada para temer, “Ele” silenciava-se diante de seus próprios “suspiros”;
Aquilo que todos chamam de “tempo” ainda não existia;
Ou melhor, lá estava “fervendo” em processos de “fermentação” pronto para ser expulso das profundezas harmônicas;
Portanto, nada existia para “medir”, para “sentir”;
Assim o “Nada” reinava em seu “trono” desprovido de “espaço” e de “tempo”;
Existia sem “consciência”, sem “sentido”;
“Vivia” harmonicamente sem perturbação;
Ali estava o “Nada” jogado literalmente ao “nada”. Esquecido. Solitário;
Ali sim, o “infinito” “abraçava” todo esse “universo” imaterial, irreal, imutável;
Sem mais nem menos, aqui, ali, acolá, vibrações “emanam” das profundezas do “Nada”;
“Fagulhas” do “Nada” suspensas também em nada começaram a saltar em um movimento frenético dando nós em si mesmas, confusas como um casal apaixonado que se vê pela segunda vez;
Um movimento sem causa, sem criador...
Casualmente, algo começa a fluir;
Nesse instante, o “Nada” tremia novamente, desta vez, mais intenso;
O “infinito” sacolejava;
E o “espaço” se contorcia e se esforçava para vi à tona;
De repente, tudo se faz “silêncio” novamente como se esperasse um comando...
Mas a desordem emerge das profundezas pulsantes;
Agora tudo treme, tudo é perturbação, tudo é variação, tudo é desordem;
Vai-se gerando “ordem” aos poucos;
As “porções” do “Nada” que se enamoravam, agora se distanciam sem saberem se ainda irão se encontrar;
Surge então a variação de acontecimentos e com isso, o “tempo” nasce;
(...)
O que era deixa de ser. Nada será. Apenas é ou deixará de ser;
O “Nada” adormecido em seu sono cósmico desperta;
O “espaço” nasce dessa perturbação, desse desequilíbrio, dessa quebra de simetria, dessa imperfeição, dessa inquietação;
Surgem então as transformações, as mutações e, com isso, nosso mundo, não eu nem você, nem outro ser, mas uma fagulha do “Tudo”;
Agora sim o “AGORA” existe, mas em instante deixará de existir para se transmutar em passado;
Assim, dessa “dança do Nada”, deu-se corda ao Universo.
Ele começa a pulsar;
Dá-se a “gêneses” da música cósmica;
Ou seja, enquanto o “caldeirão” que “fervia” o “Nada” “borbulhava”, o “tempo” vibrava, jorrava-se mundo a fora;
Das pulsações de micronadas, a matéria emerge;
Enquanto isso, o “tempo”, ali de mansinho a observar aquela elegante transformação, faz anotações;
E então, criaram-se “migalhas” de matéria e foi ocupando aquilo que sobrou do “Nada”;
Então o “espaço” e o que sobrou do “Nada” vão sendo “preenchidos”;
O resto do “Nada” não é “espaço”, mas outra essência;
Então a matéria foi preenchendo todo o “espaço” ou os microespaços oriundos do “Nada”;
E foi preenchendo até gerar o que temos hoje;
O nosso universo observável e não observável foi criado;
(...)
Talvez um dia a matéria adquira um equilíbrio e reine assim como o “Nada” e ocorra novamente um desequilíbrio;
Quando isso ocorrer;
O “tempo” deixará de existir, o “espaço” também, a matéria sucumbirá e então:
Seremos novamente um “Nada” pulsante;
E depois, em um “sono” profundo, em um esquecimento cósmico...
Mergulharemos,
Para sempre?
Só o “Nada” poderá nos dizer;
Enquanto isso, o Universo continua a pulsar.
Marcos Souza
Professor
Araquém, Coreaú - CE